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Arquitetura, decoração e design

Às margens do Tâmisa

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Marcelo Lima - O Estado de S.Paulo

A persistência em determinadas questões ? sejam elas conceituais ou práticas ? é um dos primeiros sinais a denunciar a excelência dos grandes arquitetos: quer se trate de projetar um edifício, desenhar um espaço interior ou somente um móvel. Projetado pela arquiteta Zaha Hadid para o fabricante de louças e metais sanitários Roca, o presente showroom, localizado em Chelsea Harbour, oeste de Londres, apenas confirma a regra. De uma complexidade extrema ? aparentemente até desproporcional à finalidade de uso do imóvel ? a Roca London Gallery revela em cada detalhe de sua concepção a fluidez de formas que já se tornou uma das marcas registradas da arquiteta. Iraquiana, baseada há décadas em Londres e mundialmente famosa pela ousadia de seus projetos, que já lhe renderam, inclusive, o Prêmio Pritzker de Arquitetura, de 2004. Espécie de líder global em pesquisas pioneiras de investigação e design, sobretudo voltadas ao setor construtivo, é do escritório da arquiteta que sai hoje a maioria das avançadas tecnologias empregadas na materialização de suas obras. Entre elas, o incensado Maxxi, ou Museu de Arte do Século XXI, inaugurado em Roma em 2010, e a mais recente, um parque aquático completo, a ser aberto em junho, para os próximos jogos Olímpicos de Londres. Trabalhando em todas as escalas, de complexos esportivos nos Alpes ao desenho de sapatos de plástico para a brasileira Melissa, Zaha diz ter como maior ambição conceber projetos em sincronia com seu tempo. No trabalho para a Roca, por exemplo, a proposta foi impregnar a arquitetura com a complexidade e a beleza das formas naturais. Sendo a água, mais especificamente o seu fluxo, o tema central de sua concepção. ?Levando em consideração a essência da marca e a localização próxima ao porto, evocar a água no projeto foi quase uma escolha natural?, revela ela. Assim, o poder de erosão e o movimento determinaram um edifício repleto de formas ondulantes, por dentro e por fora, paredes curvas e ambientes aparentemente escavados. Como se tivessem sido erodidos e polidos pela força das correntezas.     Cenográficos e ao mesmo tempo funcionais, como acontece em quase todos os seus projetos, os interiores foram dotados de tecnologia de ponta, incluindo recursos audiovisuais e de iluminação. Em linhas gerais, trata-se de um edifício com um só pavimento e pouco mais de 1.000 m², onde se intercalam, sob um único piso, um estúdio de criação e uma sala de estar, que se prolonga como uma serpente por todo o interior do edifício. Ao redor dela, algumas das salas de reuniões contam com portas de vidro, acionadas por telas sensíveis ao toque. Bancos e mesas de plástico se espalham pelos espaços, enquanto enormes bulbos, do mesmo material, aparecem suspensos no teto. Interligando os ambientes, arcos sugerem uma gigantesca caverna de concreto, onde produtos são exibidos em prateleiras apenas escavadas nas paredes e equipadas com luzes internas. Unificados por um aparente turbilhão, os espaços interior e exterior aparecem em plena continuidade, realçados por um projeto de iluminação preciso, com dupla função: nos interiores, direcionar o olhar e interligar os diversos setores da corporação. Na parte de fora, conferir volume e unidade a um conjunto de formas aparentemente desconectadas, que parecem ter sido moldadas pela erosão hídrica. De fato, é impossível ficar indiferente à impressionante visão de futuro sugerida pela fachada da galeria, em meio ao entorno bem-comportado de Chelsea Harbour. ?Zaha soube interpretar com precisão todos os valores da nossa marca, bem como a filosofia de nossa empresa. De uma forma não apenas singular e emocionante, mas verdadeiramente tangível?, exalta o diretor-presidente da Roca, o espanhol Miguel Angel Munar.

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