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Arquitetura, decoração e design

Em águas cristalinas

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Por Natalia Mazzoni
Atualização:

O italiano Gaetano Pesce assina uma edição limitada de mesas inspiradas em rios, lagos e oceanos

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Marcelo Lima ? O Estado de S. Paulo

A ideia surgiu durante uma conversa do designer e arquiteto italiano Gaetano Pesce com o galerista britânico David Gill: compor uma série de mesas em que a água surgisse representada tal qual é encontrado na natureza ? mar, lagoa, rio, lago, laguna e poça. Em menos de um ano, pelas mãos de Pesce, elas ganharam forma e existência concreta, uma exposição retrospectiva, mas, acima de tudo, se tornaram portadoras de uma importante mensagem do designer. ?Amamos viver em torno da água. Mas não a tratamos com o respeito que ela merece?, afirma ele. ?Essas mesas foram feitas para serem vistas como grandes corpos d?água. Como você veria se as estivesse sobrevoando?, explicou o designer, em seu escritório em Manhattan. Ele recebeu o

Casa

, com exclusividade, para comentar sua recente coleção, desenvolvida com espuma rígida de poliuretano, PVC e resina epóxi, para a galeria David Gill, em Londres. ?Meus materiais são líquidos, por isso, me sinto à vontade para falar de água.? A resina, segundo Pesce, é o material ideal para representar um mundo sujeito a mudanças intensas. ?Para mim, o processo de criação é muito físico. Eu visito minha oficina no Brooklyn todos os dias e trabalho com minhas próprias mãos?, comentou ele ao discursar com intimidade sobre a matéria-prima que manipula há mais de quatro décadas. ?Todo o meu trabalho começa com esboços, transformados em modelos, até atingirem seu formato final?, conta. Atuando na prática como um artista, Pesce nunca se incomodou em se expressar de forma figurativa. ?Eu não acredito em formas abstratas. Quando as pessoas se reconhecem em um objeto, elas se conectam mais profundamente a eles?, acredita, citando como exemplo a poltrona Donna. Nela, uma de suas mais conhecidas criações, um banco de apoio em forma de bola de chumbo, aparece atado a um móvel de contornos femininos e opulentos, em um autêntico libelo contra a opressão feminina. Convencido, segundo ele, desde o fim da década de 1960, de que todo e qualquer produto deve ser feito como uma obra de arte, a Pesce nunca pareceu estranho agregar referências sociopolíticas a seus trabalhos, ou até mesmo ser abertamente panfletário. ?Cada objeto, deve ser portador de uma mensagem, de uma cultura. Nosso mundo já está cheio de objetos estéreis, que são esquecidos um minuto após serem comprados e, o que é pior, depois são descartados.? No caso das mesas Water não poderia ser diferente. Com bordas irregulares, relevo, imperfeições e mesmo pequenos ornamentos, elas são, como se poderia esperar de qualquer criação do designer italiano, bem pouco ortodoxas. ?O que não significa que não possam ser usadas?, pontua, com ênfase, Pesce. ?Para mim, ser belo significa ser único, ser diferente. Eu gosto da beleza cheia de erros, porque somos humanos. Deixemos a perfeição para as máquinas.? Assim, por meio da utilização de resina ora opaca, ora translúcida, ele evoca toda a transparência da água ou sua sinuosidade. O brilho intenso do verde-esmeralda ou a profundidade do azul ultramarino. Para aumentar ainda mais a sensação de familiaridade com a paisagem, agrega ondas às superfícies, propõe escadas em miniatura avançando por sobre as bordas, sugere ilhotas perdidas e insinua continentes se descortinando no horizonte distante. Brilhante e intocado quando observado a distância, o mundo aquático imaginado por Pesce pode, no entanto, não ser tão luxuriante quando observado mais de perto. Dividida por uma fronteira, a mesa River, por exemplo, sugere uma abordagem bem menos poética: o lado azul evoca a laguna de Veneza, tal qual o designer conheceu nos anos em que viveu na cidade. O outro, consideravelmente mais sujo e desbotado, o oceano. ?Por enquanto, minhas mesas não são mais do que um comentário do que está acontecendo na realidade. Nelas existe a beleza, mas também a consciência do risco?, pontua Pesce, em seu melhor estilo provocatório. ?Mas, cedo ou tarde, vamos enfrentar problemas de escassez decorrentes do mau uso que hoje fazemos da água. Melhor, portanto, que estejamos atentos enquanto ainda há tempo?, conclui.

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