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Vitória Régia é figurinista de novelas, teatro e cinema. Formou-se estilista em São Paulo, estudou moda no Istituto Marangoni, em Milão, e na Central Saint Martins, em Londres, e roda o mundo em busca de inspirações para sua consultoria de estilo, a

Os figurinos de Tim Burton: por dentro da melancólica e soturna mente do diretor americano

Por Vitória Régia
Atualização:

O universo soturnamente melancólico e cômico do diretor Tim Burton finalmente chegou ao MIS, em São Paulo. A exposição, que fica em cartaz até maio, reúne esboços, pinturas, storyboards, esculturas, curtas-metragens e instalações.

São mais de 500 itens que proporcionam uma imersão em todas as fases do processo criativo do inventivo diretor americano. Há desde esboços em guardanapos e rabiscos feitos ainda na infância de Tim até elementos de seus filmes mais recentes.

Tim Burton e suas criações / Foto: outnow.ch / Divulgação

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Personagens tão grotescos à primeira vista nos encantam por sua fragilidade - eles sofrem de  medos que conhecemos bem: do escuro, da solidão, da morte... São monstrengos tímidos e profundamente melancólicos. E por falar em sentimentos, a exposição se distribui pelo MIS toda baseada neles. Tem a ala do horror, da melancolia e até da alegria.

Mas como esse blog se propõe a falar de figurino, vamos nos focar no conceito das roupas e inspirações por trás de alguns dos seus heróis e anti-heróis mais marcantes desde "Os Fantasmas se Divertem", de 1988.

E no caso de Burton, os figurinos parecem nascer logo no primeiro esboço, como se ele rabiscasse, ao mesmo tempo, a estrutura e também o perfil psicológico de suas criaturas.

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Victor Van Dort e A Noiva Cadáver (2005)/ Foto: Reprodução

Sejam atores reais, desenhos animados ou computações gráficas, seus personagens sempre trazem em suas formas e gestos símbolos arquetípicos de romantismo e melancolia.

Podemos decifrar os corpos magros, longilíneos e angulares. Gestos graciosos e precisos. Rostos ovalados ou em forma de um triângulo invertido. Olhos amendoados com ar de tristeza e narizes longos. Tudo isso nos conduz à interpretações de melancolia, sensibilidade, delicadeza, racionalidade e reclusão. Os cabelos revoltos e embaraçados revelam uma mente confusa, de acordo com os princípios do visagismo.

E o visagismo é uma ferramenta útil para consultores de estilo e figurinistas. No livro "Visagismo Integrado", de Philip Hallawell, dá para entender como as linhas faciais e corporais de uma pessoa expressam o seu perfil psicológico e nos dão uma primeira impressão sobre ela. Na construção de um personagem no cinema ou na TV, costuma-se acentuar ou atenuar certas linhas de expressão de modo a imprimir maior dramaticidade a ele.

O Estranho Mundo de Jack (1993) / Foto: Reprodução

Os figurinos nos filmes de Burton costumam ser assinados pela mestre Colleen Atwood, que já foi indicada nove vezes ao Oscar e ganhou três estatuetas, uma delas por "Alice no País das Maravilhas" (2010).

Nas parcerias com Burton, Colleen costuma abusar do preto, do azul e do verde em tons frios e um pouco de vermelho, que contrastam com a pele normalmente pálida dos protagonistas. Ela também lança mão de peças mais delicadas como os tecidos fluidos cortados a fio dos vestidos de Alice no País das Maravilhas, parecendo rasgados em retalhos sobrepostos. O branco aparece em pequenas quantidades e remete à pureza, mas também simboliza a morte. Isso tudo nos leva ao estilo gótico, ora em referências mais literais, ora mais diluídas.

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O termo gótico já foi usado para descrever diversas manifestações artísticas ao longo da história e carrega uma lista de adjetivos junto com ele: grotesco, bárbaro, medieval, mórbido, sombrio e macabro. Lá no final dos anos setenta então surgiu a subcultura gótica, que aplicou todo esse conceito ao estilo de vida. Também chamados de Darks, ouviam Joy Division, The Sisters of Mercy, Bauhaus, e carregavam muito na make e nos trajes. 

E o mundo de Tim nos remete com frequência a esses elementos, de modo suave e caricato. O estilo gótico sempre volta a ser fonte de inspiração para os grandes estilistas e também no dia a dia, na moda das ruas. É um processo orgânico de apropriações e misturas que faz surgir, a todo momento, novas nuances e novas tribos. Recentemente, surgiu uma nova vertente do estilo, mas com traços mais leves, e foi batizado de gótico suave.

Mas nos desfiles de inverno 2016, podemos conferir um gótico clássico com um forte perfume cinematográfico.

Alexander McQueen trouxe para McQ, sua segunda linha,peças lânguidas que chegavam a cobrir os pés e as mãos, o que deixou o visual do desfile expressivamente dramático.

Saint Laurent - Campanha Outono Inverno 2015 / Foto: Divulgação

Saint Laurent apresentou o preto em peças e acessórios pesados, com pequenos pontos de branco em material super leve e delicado, vermelho e listras. Aliás listras verticais é o que temos visto muito nos desfiles por aí, e o look de Beetlejuice nunca esteve tão em alta. ;)

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