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O saber dos pais, as invenções dos filhos e o conhecimento dos especialistas

Conversando com quem?

O contato precoce e exagerado de uma criança pequena com aparelhos eletrônicos pode atrapalhar a aquisição de linguagem

Por Marta Gimenez Baptista
Atualização:

O mundo do brincar vem se modificando muito.

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As brincadeiras de rua, na casa dos vizinhos, foram trocadas por jogos eletrônicos. Hoje se brinca de outro jeito, o brinquedo é diferente, mas não pode ser único...

É possível entender e até aceitar que o mundo "internáutico" começa mais cedo na vida das pessoas, pois o planeta se move por essa ferramenta. É um fato! Ferramenta útil, se pensarmos na rapidez e facilidade para obtermos uma informação, dados históricos, movimentos que acontecem no mundo, todo tipo de notícia e atualização. Facilita-nos a vida para comprarmos desde produtos essenciais, como comida e medicamento, até os artigos mais supérfluos.

Porém o contato precoce e exagerado com eletrônicos para uma criança pequena que está no momento de aquisição da linguagem pode atrapalhar.

Explico: é nesse momento particular que o pequeno depende do outro para dar seguimento à interação, e é essa troca que propicia que a criança se aproprie de sua fala, expressando o que pensa, o que deseja, enfim, aprenda a falar. Uso esse termo, pois é assim que os pais me perguntam sobre esse momento de seu filho: "Como a criança aprende a falar?"

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Respondo: lidar com máquinas, responder a joguinhos, passar de fase, não é o mesmo que falar com as pessoas. Usar um jogo eletrônico com esse fim, não pode, não deve...

Pensando na criança em desenvolvimento, o momento da aquisição de linguagem passa pelo poder brincar e conversar com o outro. São muitas as aquisições no início da infância, como todos sabemos.

Brincar com alguém, descobrir como brincar, passa pela linguagem e é uma das primeiras relações sociais que a criança vai construindo.

O bebê que começou brincando com a boca, fazendo "barulhinhos", descobrindo o corpo, vai aos poucos fazendo ajunção das sílabas, formando palavras mesmo sem se dar conta. Mama! Diz o bebê. Ao ouvir a palavra, o adulto dá significado: "Ele disse mamãe!" ou " Ele está com fome".

E assim a criança segue construindo as primeiras frases, depois frases com mais palavras e então começam os relatos. Nesse momento ela conta, constrói narrativas sobre momentos que vivenciou na escola, na casa da avó, no parque, enfim, aquilo que foi importante para ela e que quer compartilhar com o outro.

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Então as crianças vão se interessando pelas histórias, a ponto de não podermos mudar nem um pouquinho a versão já conhecida por ela.

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Quem já não tentou fazer um lobo mau diferente, ou por esquecer a fala do Peter Pan improvisou, sem sucesso...

A partir daí a criança acumula tal bagagem que lhe permite avançar ainda mais, chegando a inventar suas próprias histórias. Aquelas em que ela participa como personagem ou como um herói, fantasiando todas as aventuras e perigos que devem ser vividos na infância, vide "O Menino Maluquinho" do Ziraldo.

Quando conversamos, comunicamos mais que palavras: o tom da voz, a modulação usada, a expressão facial, os gestos contribuem, enriquecendo a interlocução, o que é típico do ser humano. A fala do outro nos convoca a imprevistos que comparecem nesse momento. Se alguém nos fala com voz doce, expressão serena, é uma coisa, se outro nos fala com rispidez, comtraços de braveza, é bem diferente.

Os eletrônicos, por mais que possam imitar a fala do humano, não chegam nem perto dessa singular transmissão. Não queremos transformar nossos pequenos em "papagaios" imitadores de robôs, não é mesmo?

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Ainda cabe a nós, adultos, pais, mães, interferir participando desse rico momento de descobertas.

Não dá pra pedir pro DVD: "Conta de novo aquela parte em que o lobo assusta a Chapeuzinho?"

 

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