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Impressões sobre a vida e seus arredores

O mundo é delas

Relato quase histórico da ascensão das bundas

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Por Raul Drewnick
Atualização:

Vivemos sob o reinado das bundas. Calipígias ou simplesmente volumosas, são elas que vêm indicando o rumo à humanidade. Depois que descobriram a importância que poderiam ter, elas derrubaram a ditadura dos sorrisinhos bonitos. Hoje elas, as bundas, é que são a cara do mundo.

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E tudo mudou depois que elas assumiram o poder. É para elas, agora, que primeiro olhamos quando nos interessamos por alguém. E, por terem um caráter indecifrável, fazem o que querem de nós. Os provérbios já andam alterados.Quem vê bunda não vê coração. Diga-me com que tipo de bunda você anda, e eu lhe direi quem você é. Há bundas tão inconfiáveis que não dizem a verdade nem depois de assinar o termo de delação premiada. São impossíveis, autossuficientes. É só olhar e ver: todas andam de nariz empinado.

E pensar que até há muito pouco tempo ninguém lhes dava a mínima. Só a partir do momento em que perceberam que podiam também ter livre-arbítrio é que começou realmente a revolução.

Hoje existem bundas que dão entrevistas matinais na tevê, em programas apresentados por loiras e louros, enquanto as donas (palavra que na verdade elas não aceitam mais) dormem seu sono de beleza. Nas rebeliões e passeatas da era moderna, há sempre bundas pensantes, e é nelas que a inteligência policial se concentra para fixar qualquer estratégia.

Não temos mais olhos senão para elas. Há bundas que, no meio de uma multidão de milhares de pessoas, arrancam de repente uma exclamação: Ei, olha lá, é a Francyelle. O que ela está fazendo no meio desse rolo? Puxa, ela deu uma engordada. Está bochechuda. Roupas claras não caem bem pra ela.

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O reinado das bundas já dura o suficiente para merecer que se fale de uma era. E, pelo modo firme com que elas têm exercido esse reinado, não há por que duvidar de que vão imperar por muito tempo ainda. Uma infame história antiga dizia que uma candidata a atriz, num teste, atuou tão mal que o produtor, apontando-lhe a gorda e bem distribuída bunda (que ela, por sabedoria e conselho materno, não se esquecera de levar ao estúdio), foi franco: Fazer um curso de interpretação? Acho que não resolve. Olhe, desculpe, mas seu futuro está atrás.

Proféticas palavras, não só para essa atriz, que se tornou um sucesso pela abundância sulina do seu corpo, mas para outras tantas - e tantos outros, por que não admitir?

Todo o futuro parece estar nessas duas faces, nesses dois rostos que, movendo-se graciosa ou provocadoramente, indicam nosso norte.

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