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Impressões sobre a vida e seus arredores

Quando o amor fica chato

O que a psicologia diz sobre a síndrome do gato

Por Raul Drewnick
Atualização:

Há quem diga e - querem saber? - eu concordo. O amor é mesmo chato às vezes, não há como negar. Quando digo amor, quero dizer amor, não namoricos, esses lances de duas ou três quinzenas, essas ficadinhas justificadas pela frase "afinal de contas ninguém é de ferro". Quero falar de coisas consolidadas, de relações de pelo menos seis meses, sem folgas nos finais de semana e com pelo menos quatro almoços em família (a dele e a dela, naturalmente) e de todas as rusgas causadas por esse convívio.

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E, quando falo de rusgas, quero falar não propriamente de briguinhas, mas daquelas brigonas em que uma das facções pode usar como arma a tatuagem do Robin no ombro do tio Rômulo e a outra pode replicar mencionando o cavanhaque da vovó Anísia, que ela insiste em pintar de acaju. Quero falar daquele quase rompimento do casal na tarde em que Marcela suspirou dezessete vezes num filme do Rodrigo Santoro e quero falar também do tapa que Ronílson tomou no braço quando disse que Fernanda Lima só não é deusa porque não quer.

Quando o amor começa a se tornar presunçoso e a querer assumir ares de perenidade, aí, sim, é que existe o perigo de ocorrer a síndrome do gato, só recentemente registrada nos manuais de psicologia. Seu estranho nome vem daquelas brincadeirinhas que os donos dos gatos jovens fazem com eles, para que não morram de tédio nos apartamentos. São aquelas bolinhas de pano ou de pingue-pongue que, amarradas com barbante, correm de um lado a outro da sala, esforçando-se para parecer ratinhos.

No início tudo funciona muito bem. Divertem-se os donos, diverte-se o gato, divertem-se até as bolinhas fujonas. Com o tempo, vai surgindo a monotonia. Bocejam os donos, boceja o gato, as bolinhas tornam-se lentas e desinteressantes.

É a hora em que o amor exige uma sacudidela, uma agitação qualquer, mesmo que para iniciá-la seja preciso mencionar a tatuagem do tio Rômulo, o cavanhaque da vovó Anísia ou aquela foto que o papai Rubens, quando bebe demais, resolve tirar da gaveta do meio da escrivaninha: um macaco de chapéu texano cavalgando não muito metaforicamente uma macaca, como se estivesse atrasado para um rodeio.

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