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Impressões sobre a vida e seus arredores

Sexta-feira, 26

Passou a véspera, passou o Natal, e você ainda espera a mensagem

Por Raul Drewnick
Atualização:

Bom, aí está você, minha cara, sobrevivente de mais um Natal. Este foi o pior de todos. E pensar que em agosto, no seu aniversário, você, se esparramassem em cima da mesa todos os anos de sua vida, escolheria este como o melhor de todos. Afinal, você conheceu o seu amor em janeiro. E no seu aniversário, depois do jantar romântico, ele disse, já no motel, o que você vinha esperando ouvir: que tal se vocês marcassem a data do casamento? Vocês marcaram, ele pediu que subissem uma garrafa de champanhe para o quarto, e você, chorando, achou que nunca mais viveria uma noite feliz como aquela. Você estava certa. Nunca mais. Na noite seguinte, ele, que trabalhava com joias, embarcou para Amsterdã. Na primeira semana sem notícias, você ainda quis se convencer de que não havia internet em Amsterdã. Depois as semanas foram passando, e os meses. Você gastou suas esperanças e sua imaginação em busca de pistas. Nada, sempre nada. Para resguardar a imagem dele, você, tontinha, decidiu dá-lo como morto. Só em novembro você começou a admitir: um pilantra, isso é que ele era. Um pilantra muito querido. Você resmungava essa palavra a todo instante: pilantra, pilantra, pilantra. E suspirava. Quando chegou dezembro, seu coração deu sinais de que ia abrandar-se. A ideia de que ele tivesse sido preso em Amsterdã e estivesse tentando alucinadamente entrar em contato com você começou a torturá-la. Você estabeleceu um prazo: esperaria por uma mensagem até a véspera do Natal. Depois, apagaria tudo da memória, e bola pra frente. E aí está você hoje, diante do micro. A véspera se foi, o Natal se foi e, com as lágrimas pingando no teclado, você tenta lembrar como era mesmo aquela história dos fusos horários. Talvez seja dia 25, ainda, em Amsterdã.

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