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Porque somos todos iguais na diferença

11 livros infantis sobre diversidade e pluralidade familiar que pais e escolas deveriam ter em suas estantes

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Por Claudia Pereira
Atualização:

O Família Plural preparou uma lista com publicações que promovem o respeito às diferenças e o amor.

Você já deve ter ouvido diversas vezes a expressão "é de pequeno que se aprende". Partindo desse princípio e também considerando que o modelo de família tem se tornado cada vez mais diverso nos últimos anos, o Família Plural foi atrás de publicações que trazem como tema a pluralidade familiar e a diversidade. Segundo Priscila Junqueira, psicóloga com mestrado em Ciências e especialista em Sexologia, ambos pela Faculdade de Medicina da USP, as crianças começam a identificar a diferença de gênero por volta dos dois a três anos. "A partir do momento que ela começar a demonstrar curiosidade pelo assunto, pode-se começar a conversar. Falando na linguagem da criança e respondendo o que ela perguntar", explica. A profissional pontua que falar sobre esses temas com as crianças há dez ou 15 anos era muito mais difícil para os pais, temas que envolvessem a sexualidade em geral. Hoje em dia, o tabu ainda existe, mas ela percebe uma liberdade maior entre as famílias. "Porém, a dificuldade ainda existe, porque falar de sexualidade com os filhos é ter que refletir sobre sua própria sexualidade. Quando os pais têm uma sexualidade bem resolvida, conseguem conversar entre eles sobre o assunto e, consequentemente, dialogar muito melhor com seus filhos".

A psicóloga Priscila Junqueira 

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Priscila acredita que apresentar aos filhos livros que abordem questões como pluralidade familiar, diversidade de gênero e assuntos que envolvam o universo LGBTI seja uma boa maneira de iniciar um diálogo, mas pondera que as publicações devem funcionar apenas como material de apoio, que o mais importante sempre será o exemplo transmitido pelos pais que, "ao entenderem sua própria sexualidade e o que pensam da diversidade sexual poderão abordar o tema com mais clareza e leveza", comenta. A psicóloga diz ainda que as pessoas não tratam a diversidade sexual como ela deveria ser tratada, há pouco diálogo sobre a temática, mesmo a sociedade tendo evoluído nos últimos anos. Ela considera que seria de grande importância levar o tema para as escolas, aplicando mais as políticas públicas já existentes sobre direitos sexuais. "Precisamos sempre de informação, mas muito mais de exemplos como falei. Os profissionais das áreas de sexualidade e educação precisam se apropriar cada vez mais desse universo e convocar a família para que, juntos, possamos reverter essa situação", finaliza.

Valorizando as diferenças

Com livros publicados há mais de dez anos no Brasil, o escritor e ilustrador norte-americano Todd Parr escreve livros infantis que têm como mote principal a diversidade. Ele se inspirou na própria história de vida para se enveredar pelo tema. Parr sofreu bullying na escola porque não acompanhava o ritmo de aprendizado dos colegas. Foi também desestimulado por um professor de artes a persistir em seu sonho na área. Sua trajetória de superação se reflete em sua obra, que valoriza as diferenças de forma simples e atraente para o público infantil.

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O escritor e ilustrador Todd Parr. Crédito: Pete Tater/Divulgação 

Um dos títulos do autor que pode ser encontrado no país é

'O Livro da Família'

(lançado por aqui pela editora Panda Books), que mostra as mais diferentes formações familiares. Há famílias com madrasta ou padrasto e irmãos-postiços. Há as que são grandes ou pequenas, ou ainda as famílias nas quais todos são da mesma cor ou de cores diferentes. Existem outras que adotam filhos e assim por diante. São textos simples com ilustrações de traçados divertidos e cores vibrantes. "Teria sido impossível para mim escrever um livro sobre famílias e deixar alguém fora. Há muitas maneiras de ser uma família", explica Todd Parr, em entrevista ao blog, ao falar sobre a ideia de retratar diferentes famílias em seus livros. Segundo ele, é importante ressaltar para as crianças que todos somos diferentes e que isso é uma coisa boa. "Quanto mais cedo eles percebem isso, mais fácil será para se adaptarem", afirma o autor. Além de 'O Livro da Família', a Panda Books reúne em seu catálogo outros títulos que abordam esse universo como: 'Tudo bem ser diferente', sobre diferenças físicas, sensoriais, étnicas e culturais, e 'Somos um do outro', sobre adoção, ambos também de Todd Parr; 'A bailarina especial', de Aline Fávaro Tomaz, sobre síndrome de Down; 'ABC em Libras', de Sueli Ramalho Segala e Benedicta A. Costa dos Reis, sobre alfabetização em Língua de Sinais; 'O coelho sem orelhas', de Til Schweiger e Klaus Baumgart, sobre diferenças físicas; entre outros. "Educar na diversidade e para a diversidade é um tema que tem sido discutido mundialmente desde a década de 1990 em todo o mundo, integrando a Declaração Mundial sobre Educação para Todos e, em especial, a Declaração de Salamanca sobre a educação inclusiva", afirma Tatiana Fulas, sócia-editora da Panda Books, ao blog. "A principal característica do nosso país é a diversidade - cultural, étnica, religiosa, de gênero. A criança não nasce com preconceito, esse é um valor passado pelos adultos. Portanto, é de suma importância discutir esses assuntos desde a primeira infância. Nesse ponto, o livro, como objeto cultural, é um grande vetor para esse debate."

Tatiana Fulas, da Editora Panda Books 

De acordo com Tatiana, o tema da diversidade está presente em todos os livros publicados pela editora, explicita ou implicitamente. "Os livros de Todd Parr são um grande exemplo: os personagens têm diferentes tons de pele, tipos de cabelo, estrutura física e vestimenta. Para o pequeno leitor, a imagem diz muito e essa é uma das preocupações que temos na produção dos desenhos que integrarão o livro: a presença da diversidade", diz. "A luta dos grupos minoritários que estão ganhando espaço cada vez mais na sociedade é contínua. Personagens negros, indígenas, deficientes e homossexuais estão conquistando a posição de protagonistas na literatura com mais frequência. E isso é um grande avanço."

Nossas dicas

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A carioca Metanoia Editora possui um selo especial para assuntos relacionados à diversidade, o Crianças Diversas. Criado no ano passado, foi uma iniciativa que surgiu com o objetivo de escrever para crianças e adolescentes sobre gênero, sexualidade e temas relacionados aos Direitos Humanos. "Entendemos que no campo da literatura infanto-juvenil pouco se discute sobre essa temática que atravessa nossas identidades e que compõe nosso imaginário desde cedo. Da mesma maneira que preconceitos, exclusão e violência são construídos em nossa sociedade e introjetados desde que nascemos em nossas mentes e corações, acreditamos que nossa literatura pode ajudar a desconstruí-los e a fazer com que uma nova geração surja, mais pacífica, solidária e justa", explica Léa Carvalho, editora e sócia da Metanoia. Eles possuem dez livros editados pelo Crianças Diversas e, segundo Léa, outros estão em produção. A executiva diz ainda que não é fácil achar escritores que queiram ousar escrevendo sobre a desconstrução de temas tão arraigados na sociedade. Para ela, falar sobre temas como diversidade e pluralidade não é tabu. "O que percebemos é que os adultos não têm interesse em desconstruir a heteronormatividade, o machismo, o sexismo, o racismo, o classismo. Preferem os livros de sapinhos e patinhos, com suas estorinhas fantasiosas, ao invés de apresentar a realidade às suas crianças e uma nova forma de pensar, mais inclusiva, solidária e aberta à diversidade, seja ela cultural, religiosa, racial ou sexual", explica Léa. Dos dez títulos da Metanoia, destacamos quatro que podem ser utilizados como material de apoio na hora de falar sobre diversidade com os filhos.

 

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A Princesa e a Costureira

, Metanoia Editora, de Janaina Leslão, com ilustrações de Júnior Caramez, o livro conta a história da princesa Cíntia, que foi prometida em casamento para um príncipe do reino vizinho, mas que se apaixonou pela costureira Isthar quando foi encomendar seu vestido de noiva. Ela desafia seus pais para viver este grande amor e conta com a ajuda Auxiliada por sua irmã, do próprio príncipe, da Fada Madrinha e de uma Agulha Mágica. De acordo com a editora, o livro pretende auxiliar famílias e escolas na discussão sobre a diversidade humana e promover uma luta mais ampla pelos direitos das pessoas LGBTI. A Metanoia também tem a trilogia de Rosângela Trajano, com ilustrações da própria autora:

Volume 1 - Meu Nome Social é Dulce Maria

: Aborda a questão dos transgêneros e traz a história de um menino com alma de menina que queria ser chamado de Dulce Maria.

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Volume 2 - A Menina e o Jogo de Bola

: Quem disse que menina não pode gostar de atividades que, muitas vezes, são tidas como masculinas? Na obra, a autora mostra uma menina que adorava jogar bola e brincar com os meninos da sua rua. Não queria saber de bonecas nem de meninas. Não usava laço no cabelo e nem vestido. Por sua attitude era julgada e muitos diziam que ela queria virar menino, ou viraria quando crescesse. Mas quando sabia dos comentários ela sentia mais vontade de jogar.

Volume 3 - Um Menino Meio Assim

: Um garoto delicado demais para ser um desses que fazem o tipo "valentão". Ele gostava de brincar com bonecas, de maquiagem e medo de coisas que só meninas têm.

O Menino que Brincava de Ser

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, editado pela Difusão Cultural do Livro (DCL), com autoria de Georgina da Costa Martins e ilustrações de Pinky Wainer, conta a história de Dudu, um menino de seis anos que adorava brincar de ser fada, princesa e, principalmente, bruxa. Os pais consideram seu compartamento anormal e tentar descobrir como mudar isso. Com a ajuda da avó, Dudu consegue superar os obstáculos e continuar brincando de ser e de sonhar.

 

Tenho Dois Papais

, de Bela Bordeaux: o livro foi financiado com o apoio de uma campanha colaborativa no Catarse e pode ser adquirido pelo site http://www.tenhodoispapais.com.br. A publicação traz ilustrações e conta a história de um garotinho que tem dois pais, mostrando que sua vida é igual a de qualquer criança que pertença a uma formação familiar tradicional, com os mesmos problemas, desafios, alegrias, tristezas, etc.

 

Cada Um Com Seu Jeito, Cada Jeito É De Um!

, da Editora Alvorada e escrito por Lucimar Rosa Dias, com ilustrações de Sandra Beatriz Lavandeira, traz como personagem principal uma garotinha chamada Luanda, que teve seu nome escolhido por ser a capital da Angola. O livro aborda a valorização étnica com o objetivo de trabalhar com o público infantile a questão das diferenças, sejam elas físicas, emocionais, etc.

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Minha Família Colorida

, da Edições SM e autoria de Georgina Martins, com ilustrações de Maria Eugênia, conta a história de Ângelo, um menino que tem um irmão com cabelos lisos, uma mãe com cabelos ondulados, uma avó negra e, mesmo sendo diferentes, todos fazem parte da mesma família. Com seus questionamentos sobre como isso é possível, a obra mostra que somos resultado da mistura de etnias.

 

Somos Iguais Mesmo Sendo Diferentes

, Editora Moderna, de Marcos Ribeiro, com ilustrações de Isabel de Paiva, promove o respeito e fomenta a igualdade de direitos por meio do diálogo. O livro ensina a lidar com as diversidades diárias da vida.  

 

É Tudo Família!

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, L&PM Editores, com texto de Alexandra Maxeiner e ilustrações de Anke Kuhl. No livro, a autora retrata diferentes formações familiares, como a menina que não tem irmãos, a garota que tem duas festas por ano: uma para comemorar seu nascimento e outra, sua chegada. Mas ela mostra que, na realidade, todas são, sim, uma família, independentemente de sua configuração.  

 

O Livro da Família, da Panda Books, do escritor e ilustrador Todd Parr. Com frases curtas, diretas e envolventes, o autor apresenta as diferenças das famílias, abordando assuntos como adoção, diferenças raciais, culturais e sociais. As ilustrações bem coloridas são um dos grandes atrativos do livro.

  Colaborou Adriana Del Ré Comentários e sugestões de pauta podem ser encaminhados para os e-mails familiaplural@estadao.com e familiaplural@gmail.com.

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