EXCLUSIVO: Os bastidores do sucesso de Paula Cademartori na era mais propícia para mentes brilhantes.
A designer Paula Cademartori @ cortesia
Se você acha que o Brasil não tem vez na moda internacional, esqueça. Hora de rever conceitos! Sem deslumbres, nem nada. Todos enxergam as dificuldades do mercado de exportação Made in Brasil no circuito global. Sim, eu estou falando dos valores altíssimos de produtos que não correspondem à qualidade da mão de obra/matéria prima dos concorrentes internacionais, somados às taxas oméricas de produção e os casos de criatividade deficiente da tal cópia travestida de inspiração e etc. Mas francamente? Acredite, nem tudo está perdido.
Na minha cabeça a lógica é simples. Mentes brilhantes são completamente capazes de criar suas próprias ferramentas para driblar, sobreviver ou revolucionar um determinado sistema. Mentes brilhantes não possuem local de nascimento pré-estabelecido e por mais que certas circunstâncias não ajudem e/ou facilitem, mentes brilhantes transformam condições em aprendizados e experiências para encarar de frente a imperfeição do mundo. Logo, seja no Brasil ou no Timor Leste todos têm a sua vez!
Campanha de Verão 2015 da Paula Cademartori @ cortesia
Pode parecer utópico e tal, mas alguém poderia apontar uma era mais propícia para mentes brilhantes do que essa que vivemos agora? Esses tempos da globalização, da queda de fronteiras por meio da comunicação, da reivindicação compartilhada, da pluralidade do ponto de vista, dos dedos mindinhos dos EUA e de Cuba novamente entrelaçados e ah... Como eu não trocaria a minha geração por nenhuma década icônica do saudosismo vintage! Desde que cheguei em Paris há três anos atrás, fiquei muito impressionada com a quantidade de jovens brasileiros que vivem na Europa em busca do "sonho moda". Jovens de todas as partes do nosso país envolvidos pelo sentimento de inter-relacionar vivências e desejos criativos através de uma porteira escancarada por
, designer brasileiro e ex-diretor criativo da Lanvin, nos anos 90.
Um dos modelos da coleção de Verão 2015 @ cortesia
Tenho amigos brazucas integrando diversas equipes criativas de "grifes grifadas" - de Balenciaga à Repossi - e outros construindo suas próprias "marcas.fr". E quer saber? Na maioria dos casos, sair do Brasil tem muito mais a ver com internacionalizar identidades do que com negar o seu país de origem. Afinal, onde quer que seja todos nós carregamos muito do Brasil conosco. Um dos exemplos mais notavéis dessa atual geração "tupinternacional" é a designer
, radicada na Itália. Em pouco mais de quatro anos, Paula alcançou repercussão extraordinária com a sua marca homônima ganhando suporte absoluto da corte fashionista do
street style
. Suas bolsas se transformaram em verdadeiras
it-bags
da
web
ao arrematarem looks desejáveis das celebridades do estilo como Anna Dello Russo, Chiara Ferragni e Miroslava Duma. Resultando em uma
neo label
ovacionada pela imprensa mundial, fenômeno das redes sociais e presente em mais de 160 pontos quentíssimos de venda no globo, da
em Londres até o online
.
Anna Dello Russo flagrada com a sua it-bag Paula Cademartori @ reprodução
Divagando sobre a teoria das mentes brilhantes e a desenvoltura criativa e empreendedora da geração Y, além do
look
do dia e da overdose de
selfies
de Instagram, resolvi bater um papo com a Paula Cademartori, descobrir qual é o verdadeiro motor de uma carreira tão promissora e posso adiantar? A mente de Paula também brilha!
Bastidores do processo de desenvolvimento das bolsas de Paula Cademartori @ cortesia
Paula, me conte um pouco da sua vida e o que te fez se interessar por moda?
Eu nasci e cresci no Brasil, em Porto Alegre, onde estudei Design Industrial e comecei a trabalhar com joias e calçados. Na verdade, gosto de moda desde pequena. Brincava no guarda-roupa da minha avó e sempre fui fascinada por acessórios e pelo conceito que existe por trás da realização de um objeto. Foi isso que me trouxe à Itália em 2005. Aqui, fiz uma pós - graduação no Instituto Marangoni e depois tirei um certificado pela Universidade de Bocconi em Milão. Continuei trabalhando na área e integrei a equipe da Versace por 2 anos até decidir lançar minha própria marca em 2010.
Em qual momento e por que você decidiu sair do Brasil?
Tinha apenas 21 anos e fui impulsionada pela minha paixão e maior sonho: Ser designer de acessórios. Admito, foi um grande desafio que eu repetiria sem dúvidas! Como sempre me interessei pelo segmento vi que a Itália era o melhor lugar para começar essa nova aventura e mais tarde, um negócio.
Bastidores do processo de desenvolvimento das bolsas de Paula Cademartori @ cortesia
Você acha que a absorção do estilo de vida europeu mudou a sua maneira de ver o mundo?
Não acho que minha visão do mundo mudou. Se tem algo que gosto é o fato de ser a mesma pessoa, só que claro, com mais responsabilidades.
Já que estamos falando de visão do mundo, o que te inspira?
Tudo! Basta me impressionar e emocionar. Sou muito curiosa e me sinto atraída por diversos segmentos criativos. Arte, música, cinema, literatura... Amo colecionar imagens e fotografias de diferentes épocas e colocar tudo em um caderninho.
Qual é a fórmula do seu processo criativo?
Quando crio uma nova coleção tudo é bem pessoal e único. Eu diria que... Apenas interpreto minhas emoções e as traduzo em formas, cores e texturas. Meu ritual é bem simples: Um par de fones de ouvido e música boa para dar vazão à minha criatividade e sensações...
Bastidores do processo de desenvolvimento das bolsas de Paula Cademartori @ cortesia
E depois tudo isso é encaminhado para a sua equipe, certo? Você é mais do tipo que delega ou faz questão de presenciar cada escala?
Amo seguir passo à passo pessoalmente, do design à produção, das vendas à comunicação. Minha empresa é dividida em departamentos e equipes bem precisas. Somos um time pequeno que trabalha diariamente por um objetivo comum: Conquistar o mundo! Na verdade, eu acho que quando um designer decide fundar a sua própria marca é importante ser apto para combinar criatividade com habilidade de gerenciar seu business.
Interessante, o Pierre Hardy me disse algo parecido uma vez... Falando nisso, na sua opinião, qual é o maior desafio em criar um objeto de luxo atualmente?
Acho que hoje, o conceito de luxo evoluiu. A moda e as tendências mudam cada vez mais rápido e isso prejudica a qualidade das coisas. Eu acredito que o verdadeiro luxo está linkado com conceitos de elegância, exclusividade e funcionalidade atemporais, e espero que minhas coleções possam transmitir essa mensagem - de que o acessório é algo feito para durar através dos tempos.
Um dos modelos da coleção de Verão 2015 @ cortesia
Você não tem medo de cópias ou do seu produto ser banalizado como o modelo tradicional da Vuitton cheio de hologramas? Porque nossa, suas bolsas são tão emblemáticas...
Esse é um assunto muito complexo porque o mercado de contrafacção está em uma realidade paralela. Contudo, fica difícil não dar de cara com ele mais cedo ou mais tarde. Em alguns casos isso é interpretado de maneira "positiva" por aumentar a reputação de uma marca, mas eu não faço bolsas para vítimas da moda. Faço para pessoas que entendem o bem do luxo artesanal e têm prazer em desfrutar disso. Minhas peças são totalmente feitas na Itália e isso agrega uma exclusividade importante para mim.
Um dos modelos da coleção de Verão 2015 @ cortesia
Paula Cademartori é hoje a marca queridinha do street style, praticamente um ícone dessa geração. Quais são as vantagens dessa nova espécie de estratégia de difusão?
Street style pode ser entendido como um plano de marketing, engraçado né? Apesar disso ter me ajudado muito a ganhar visibilidade e, claro, ter sido muito bom para as vendas, a verdade é que adoro quando pessoas que admiro, seja pelo estilo ou personalidade, usam as minhas bolsas. Desde o início quis criar peças que deveriam fazer as mulheres se sentirem bonitas e para mim, bolsas são objetos de design para colecionar. Elas devem ser vistas e também expressar algo. Tenho muito orgulho em saber que as pessoas entendem o que eu quero dizer através delas.
Quais são os planos de Paula Cademartori? Como você imagina o futuro da sua marca?
Cheio de sucessos, eu espero! Minha próxima meta é aumentar o meu negócio tanto em termos de distribuição quanto design. Terei muitas novidades para contar com a próxima coleção de inverno 2015!
Um dos modelos da coleção de Verão 2015 @ cortesia
E uma prévia ao blog Front Row do ESTADO...
Vou introduzir uma nova linha de produtos com a mesma genealogia das minhas bolsas: atemporalidade, exclusividade e Made in Italy. Então, me aguarde! E também estou trabalhando duro para expandir minha rede de vendas e em alguns anos abrirei a minha primeiraflagship store em Milão - lugar onde meu sonho se tornou realidade.
Chique! Paula, qual foi o maior desafio em se lançar em um momento onde muitos faliram? Me conta como é ser um novo exemplo de business de sucesso em tempos de crise?
Muito ousado! Na minha opinião, o mais importante hoje é ter uma iniciativa, senso pragmático, uma estratégia perspicaz de negócios e muito entusiasmo. Sabe? Ser forte diante do primeiro "NÃO" e seus obstáculos - que não são poucos - e sempre confiar em si mesmo e em suas próprias ideias.
Um dos modelos da coleção de Verão 2015 @ cortesia
E me diz, para finalizar, o que você carrega do Brasil contigo e quais são suas dicas para os designers brasileiros que estão começando?
O Brasil está sempre no meu coração. Eu sou MUITO brasileira! Tento sempre pegar inspiraçoes da nossa cultura e trazer essa energia tanto às minhas coleções quanto à minha empresa. O mundo da moda é realmente complicado e competitivo. Meu conselho para esses novos designers são: Acredite em seus objetivos e paixões sem se intimidar pelas primeiras dificuldades e seja curioso! Se inspire em tudo que te cerca, em 360 graus!
Um dos modelos da coleção de Verão 2015 @ cortesia
Anotou?
Um beijo!
