Foto do(a) blog

Transtornos mentais e suas diferenças entre homens e mulheres

Opinião|Entenda a relação entre depressão e coração

PUBLICIDADE

Foto do author Dr. Joel Rennó
Atualização:

Atualmente, a depressão é a maior causa de perda de dias de trabalho de acordo com a Organização Mundial de Saúde, com prevalência entre 10% a 20%. Até a economia mundial pode ser afetada pela depressão.

PUBLICIDADE

É muito comum termos a associação entre depressão e várias doenças cardiovasculares e somados os dois problemas englobamos as principais doenças do mundo moderno.

Pacientes com doenças cardíacas podem chegar a ter uma taxa de depressão maior e da ordem de 20% a 36%. E por que tal associação ocorre tão frequentemente?

Diversos fatores podem explicar esse elo entre depressão e doenças do coração sendo os mais estudados: as alterações nas plaquetas, a inflamação e o aumento da atividade do sistema nervoso simpático, com produção excessiva do neurotransmissor noradrenalina.

Durante o processo inflamatório, certos anticorpos podem atravessar rumo ao sistema nervoso central (SNC) devido ao aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica e provocar sintomas psiquiátricos ou neurológicos. Portanto, pela linha atual de estudos, podemos ter o desencadeamento de depressão após infecções ou doenças autoimunes- geradoras de inflamação.

Publicidade

Considerando que a atividade inflamatória possa fazer parte tanto da depressão quanto das doenças cardiovasculares, ambas condições podem ter sintomas semelhantes como fadiga, anorexia, redução da interação com tendência ao isolamento, além de prejuízo do sono e diminuição da atenção. Esse mecanismo seria uma espécie de efeito protetor contra a perda de energia e de autodefesa do nosso organismo.

Pessoas com doença coronariana, por exemplo, possuem um agravamento da doença quando se encontram deprimidas.  Muitos justificam isso ao fato de que deprimidos praticam menos atividades físicas e se alimentem mal, com pouca aderência ao tratamento cardiológico devido à falta de motivação e energia típicas de quadros depressivos. Porém, o fator realmente importante é a alteração da atividade inflamatória, atualmente uma área em efervescência científica.

Essa questão é tão importante que sujeitos deprimidos têm um risco de mortalidade quatro vezes maior após 6 a 18 meses do evento de infarto agudo do miocárdio. A Associação Americana de Cardiologia recomenda como uma de suas principais diretrizes na atualidade o tratamento antidepressivo obrigatório dos pacientes cardíacos deprimidos a fim de melhorar o prognóstico da doença cardíaca.

Evidências atuais demonstram que os antidepressivos que regulam a concentração de serotonina (sertralina e citalopram) têm um efeito cardioprotetor em torno de 60%.

Concluindo, estudarmos melhor as causas comuns da depressão e das doenças cardiovasculares é obrigatório porque se trata de um problema de saúde pública e de grande repercussão à funcionalidade e qualidade de vida de milhões de pessoas tanto de países desenvolvidos quanto de países em desenvolvimento. Fica dado o alerta até porque pode ser uma questão de vida ou morte.

Publicidade

 

 

 

Opinião por Dr. Joel Rennó

Professor Colaborador da FMUSP. Diretor do Programa Saúde Mental da Mulher do IPq-HCFMUSP. Coordenador da Comissão de Saúde Mental da Mulher da ABP. Instagram @profdrjoelrennojr

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.