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Um blog com estilo

Casting de bonecas

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Por Dado Carvalho
Atualização:

Na última edição do

Fashion's Night Out

, evento de moda que ganha a madrugada de algumas cidades do mundo, como Nova York, com desfiles e lojas abertas, um jovem fashionista fez uma brincadeira com dois dos maiores nomes da imprensa de moda. O sino-americano

Andrew Yang

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transformou a famosa e temida editora da

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Vogue

americana, Anna Wintour, em boneca. Fazendo companhia ao novo brinquedo, estava Grace Coddington, também parte da revista. Estilizadas, as pecinhas estavam expostas na loja Barney's em uma espécie de tributo à moda: foi colocado lá um casting de bonequinhas, fazendo uma releitura de looks de desfiles das maiores marcas da edição de inverno das maiores semanas de moda. Até um Alexander McQueen foi exposto na loja.

Aquele, segundo o próprio Yang, foi um triunfo pessoal que o fez ganhar o mundo. Um ano antes, conta, ele estava recebendo o seguro-desemprego do governo em tempos de crise financeira. "Se me dissessem que eu estaria viajando para Hong Kong com minhas bonecas, eu não acreditaria", disse ao

Diaspora Diaries

.

Salt Lake City |

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Nada mal para quem não brincava com bonecas quando era pequeno. Na verdade, ele tinha pouco contato com brinquedos. E isso tem a ver com a origem humilde e com a rigidez religiosa dos pais.

A mãe de Yang é mórmon, vinda de uma família de mórmons, vivendo justamente no coração da comunidade mórmon: Salt Lake City (a cidade americana foi criada especialmente para este grupo). Os membros desta religião costumam viajar pelo mundo em missões, para arrebanhar novos seguidores. Em uma dessas viagens, para Taipei, a mãe de Yang conheceu um rapaz de vinte e poucos anos que mais tarde se tornaria seu marido. A missão terminou, mas eles passaram a se comunicar por correspondência.

Em uma dessas cartas, o rapaz pediu a moça em casamento. A família se opôs: não queriam um chinês na família. A moça foi firme, e conseguiu convencer o noivo a se mudar para os EUA e se converter à religião da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Taipei |

Talvez por esta origem, o comportamento fora dos padrões do pequeno Andrew não descia pela garganta dos tradicionais pais. Ainda mais com o referencial que eles tinham dentro da própria casa.

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"Meu irmão é o filho prodígio. Foi para a China, aprendeu mandarim, e está em missão em Taiwan", conta Yang ao

Diaspora Diaries

. "Já eu, eu sou gay, cheio de tatuagens e... faço bonecas!" Mas ele bem que tentou. Dos 12 aos 18 anos, Yang passava as férias de verão com os parentes paternos, em Taipei. Foi lá que entrou em contato com as tradicionais bonecas de pano. Começava ali a sua nova infância.

Big Apple |

Aos 18, Yang foi estudar moda em Nova York. Não demorou a ir para a indústria. Mas via muitas limitações naquele trabalho.

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Foi em 2008 que ele criou sua primeira coleção de bonecas, que passaram a ser chamadas de '

Kouklitas

' (uma variação da palavra 'boneca' em grego). Elas tinham os mesmos looks de desfiles de grandes marcas. Ou melhor: quase os mesmos looks. "Eu não recrio os looks exatamente (como eram), porque eles já foram feitos. Então tentei trazê-los para minha estética, que é a de uma boneca bem macia." As divas têm 69cm. São pequenas no tamanho, mas foram grandes o bastante para criar um hype em cima do nome de Andrew Yang, sobretudo entre os gays de East Village.

Até Tavi Gevinson, a precoce blogueira fashionista, colocou em seu blog a admiração pelo que viu lá na Barney's, durante o Fashion's Night Out. Yang, que aparece nas páginas das revistas parecendo um personagem de mangá, não precisa mais receber o seguro-desemprego. E suas bonecas chegaram bem longe. Mas o lugar que ele queria alcançar nem era tão complicado assim: gostaria que elas estivessem nos braços de alguma criança, ou ao lado do travesseiro de alguém.

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