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A escola de Heitor Werneck

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Por Dado Carvalho
Atualização:

A loja

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Escola de Divinos

volta a abrir as portas depois de oito anos fora de atividade. Entre as peças criadas por Heitor Werneck - todas únicas -, muito couro, látex, vinil e uma cartela de cores com predomínio do preto. Em outras palavras, um retorno ao universo punk, clubber e fetichista que fez de Werneck um dos grandes nomes do underground paulista dos anos 90. "Depois que foram feitas todas as camisetas, todas as calças, tudo, tudo, tudo, tudo, eu pego os retalhos que ficaram", conta o estilista. "É a hora que eu mais gosto. O meu trabalho é juntar meia dúzia de retalhos e fazer o que ninguém mais tem coragem."

Insight |

Fazia, porém, algum tempo que ninguém juntava um retalho no outro. "Eu precisava descobrir o que me trouxe essa doença. E descobri", lembra. Um câncer nos ossos tirou o estilista das atividades, em 2002. Na época, a Escola de Divinos era referência e seus 50 funcionários trabalhavam para que a cada duas semanas houvesse uma grande novidade no lugar. Todo mundo que era alguém na noite tinha algo da loja. Até que, há não muito tempo, enquanto Werneck ainda se recuperava no hospital, duas pessoas o visitaram. Levavam dinheiro (e não era pouco), e deixaram muitas notas embaixo do travesseiro. Disseram: "Isso é pelas peças que você ainda vai criar." Naquela hora, Werneck, que não tinha intenção de voltar a costurar, percebeu: havia diversos órfãos de seu trabalho na cidade. E era hora de voltar ao trabalho.

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Berço punk |

Aos 15, Werneck já cuidava de uma marca, a Licantropia ('licantropia' é o nome dado à existência dos lobisomens). "Na época, havia alguns brechós, mas eram poucos. A gente não tinha onde comprar roupa." Isso, para um clubber que adorava se montar, era absolutamente inadmissível. A ideia da marca era justamente retalhar as coisas, misturar uma à outra. "Mas ainda não era eu", lembra. Nascia a Escola de Divinos um pouco depois.

Não demorou até surgir um evento que impulsionaria toda a moda underground paulista: o Phytoervas Fashion. Este foi o embrião do que é hoje a São Paulo Fashion Week. Foi lá, em 1993 (época da Nation, que estava fechando) que Fause Haten e Alexandre Herchcovitch ficaram mais conhecidos. Heitor Werneck estava entre eles. O motivo da entrada de Werneck: Vivienne Westwood. A estilista britânica estava de passagem pelo Brasil para participar de eventos da faculdade onde Werneck fazia moda. Gostou do que ele criava e ficaram próximos, criando algumas coisas juntos. "Ela desenhava para Sid Vicious, gente que eu admirava." Esta foi sua porta de entrada para a primeira semana de moda do País.

Caminhos |

O início de Werneck não foi muito diferente do de Herchcovitch. Ambos desenhavam roupas para travestis. Na época, Herchcovitch fez parceria com Márcia Pantera e, Werneck, com Bebete Indrarte, do clube Madame Satã. Uma diferença, porém, levou a carreira do estilista para outro rumo: nada do que ele cria tem par. Até hoje, todas as peças são exclusivas. E os preços não são altos (há peças entre R$ 60 e R$ 600). Werneck também não liga para a tendência. "Pouco me importa se o preto está na moda. Eu faço o que eu gosto. O que eu quero vestir." O estilista se inspira no mundo dos clubes noturnos de sua época. "Eu bebo na fonte do fetiche, do rock'n'roll." Em uma época em que a regra era o máximo de 'montação', ele logo virou ícone. Mas como é a noite de hoje? "O ecstasy acabou com a noite. Ninguém mais se monta", sentencia. A teoria faz sentido: a droga causa uma agitação tamanha, que é preciso vestir roupas confortáveis. "Depois que se popularizou, todo mundo só sai de calça jeans e camiseta." Ainda assim ele tem esperanças para os clubbers e suas 'montações' - e o ponto de encontro será no cabaré que ele pretende abrir em breve. O período ausente não o afastou da noite. Há quatro anos, ele cuida da festa Luxúria, com Dress Code fetichista obrigatório (diga-se: tudo o que você encontraria na Escola de Divinos: muito couro, vinil, plástico e roupas pretas. De outro jeito, não entra). O projeto completa quatro anos no dia 7, no clube

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Constantine.

"Nessa festa, meu amigo, tem de prefeito a desembargador", revela. "Todo mundo mascarado." Se houver dúvida na hora de escolher a roupa, já sabe onde passar.

SERVIÇO | Escola de Divinos

R. Haddock Lobo, 893, Jd. Paulista, 2385-8864.

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