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Crônicas do cotidiano

A/C Papai Noel

Endereço: Pólo Norte

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Por Ricardo Chapola
Atualização:
 Foto: Estadão

 

Ilustração: Felipe Blanco

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Querido Papai Noel,

Beleza? Faz um tempo que a gente não se fala. Devem ter sido uns 20 Natais pelas minhas contas. Não mudei muito e suponho que o senhor também não. Talvez tenha ganhado uns quilinhos tanto quanto eu, mas relaxa: quando eu deixei de acreditar no senhor ganhei um Total Shape do meu pai que resolveu minha vida em questão de uma, duas semanas.

O senhor deve estar se perguntando o motivo da carta depois de tantos anos de sumiço. Vou jogar a real: não acreditava mais em você. De repente passei a desconfiar dos velhinhos rechonchudos vestidos de vermelho nas portas dos shoppings, distribuindo balas. Cada um tinha uma voz. Uns tinham a barba ligeiramente amarelada. Os olhos deles viviam mudando de cor, dependendo se eu estivesse no Center Norte ou no Higienópolis. Colecionando tantas evidências contrárias a minha crença natalina, decidi então sucumbir ao ceticismo. Papai Noel, você não existiria mais.

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Foi um erro. Podemos negociar depois as punições aplicáveis a mim pela infidelidade. O senhor agora deve estar se perguntando como voltei a acreditar em Papai Noel assim, da noite para o dia. Simples: com a mesma sagacidade que usei para desmascarar seus sósias, conclui que não acreditar nas coisas faz com que elas realmente aconteçam.

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Não que acreditar no senhor fosse algo ruim. Muito pelo contrário. Acontece que eu também não acreditava que, um dia, a gente pudesse ficar sem água. Estamos quase.Se demorasse um pouco mais para decidir se enviaria ou não a carta, o banho já não faria mais parte da cultura paulistana. Também tinha dúvidas se o Brasil seria campeão da Copa. Se tivesse voltado a acreditar em Papai Noel já naquela época, talvez a seleção tomasse só uns 4 da Alemanha. Uns 2 se, somado a isso, o Neymar tivesse jogado.

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Jamais imaginaria que alguém fosse capaz de falar que uma pessoa merecesse ser estuprada. Há quem diga isso hoje sendo pago com dinheiro público. Por essas e outras, Papai Noel, resolvi que vale muito mais a pena acreditar no senhor.

Pode ser uma solução um tanto simplista, infantil até. Mas volta e meia o que mais desejo é voltar a ver o mundo com o olhar de uma criança, que não desconfia do velhinho rechonchudo nas portas do shopping, nem creia que a pistolinha de água um dia vá deixar de existir. O senhor me aceita de volta? Os biscoitos e o leite estão na mesa da sala, próximos à árvore. Pode comer sossegado que é tudo integral, tá?

Um abraço saudoso Ricardo

PS: preciso de um computador novo. Acha que rola? Feliz Natal!

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