- Amor, onde você vai de mochila? - perguntei, acostumado a vê-la só de bolsa em suas andanças.
- Hoje vou pro trabalho a pé. É semana da mobilidade urbana.
Fechou a porta e saiu, sorrindo não sei se feliz com o beijo de despedida, ou se pela satisfação de tirar um carro da rua. O melhor dos mundos seria se fosse pelas duas coisas juntas.
Sempre quando ouço a palavra mobilidade em São Paulo, bate lá no fundo uma vontade de rir. Quem mais fala dela é político, consequentemente na frente de quem mais tenho vontade de gargalhar. O paulistano é o povo que anda devagar, mesmo que ainda tendo pressa. Pesquisas comprovariam minha afirmação, se hoje elas não estivessem mais preocupadas em aferir quem nos fará cócegas internas nos próximos quatros anos.
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Quem leva o termo mobilidade ao pé da letra, decide se mexer por outros meios. A pé, pelo metrô, ônibus, ou vá lá, até de bicicleta, que deixou de ser um programa de domingo para virar alternativa de transporte graças às ciclofaixas. À medida que elas desabrocham pelo chão, vou ficando com a sensação de que a distância entre São Paulo e as cidades europeias seja mesmo somente o oceano Atlântico.
O paulistano que vê mais do que água entre nós e eles anda de carro de segunda a sexta, pois acha perigosa essa história de ciclovia. Tem bicicleta, embora só tire da garagem aos sábados, para os passeios no Ibirapuera. Viaja quase todo ano pro velho continente, dando uma passadinha em Amsterdã, onde as pessoas são bonitas, o trânsito é melhor e dá até pra você pedalar todo dia, sem medo de ser feliz, a passeio, ou a trabalho. Isso sim é que é vida.
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