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Crônicas do cotidiano

O pobre fala

Quem menos tem e quem mais sorri

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Por Ricardo Chapola
Atualização:

Pior do que ser pobre é ser pobre hipertenso. Descobre que é hipertenso depois de ficar três horas na fila de um Pronto Socorro. Quem dá o diagnóstico é um médico cubano. O brasileiro sai correndo sempre na hora de atender. Diz que está de plantão no Hospital Samaritano, no Higienópolis.

Muito pobre costuma desmaiar em velório. Quem é pobre não tem dinheiro para comprar a vida. Paga-se com ela.

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Em churrasco não se desmaia porque há comida. Duas condições são inerentes à vida de um pobre: a carteira vazia e o prato vazio. A falta de nutrientes explica o alto índice de pobres com hipoglicemia.

Ninguém gosta de ficar doente. Pobre muito menos - mas são os que mais ficam. São pobres demais para ficarem sãos de novo. Remédio hoje não é para qualquer um. É a glamourização da saúde.

Prova disso é o hemograma. Hemograma, quem faz, é rico. Pobre faz exame de sangue. É a hora em que mais transpira na vida. Pelo medo da agulha, ou pelo arrependimento de não ter perguntado quanto custava. Nesse momento, o pobre engole um seco e lamenta ter comido o lanchinho fornecido pelo laboratório.

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Falam que colesterol é coisa de pobre. Mentira. Patrão também é. A diferença é que ele come arroz integral. Pobre só tem dinheiro, se tanto, para um pastel. O descompasso nutricional é inversamente proporcional ao salário de cada um. Talvez seja a hora de um reajuste.

O pobre não é só preocupado em procriar. Na verdade, os pobres se amam. Sem camisinha, sem anticoncepcional, sem dinheiro.

Pobre só se fode, mas mesmo assim ele sorri. Sem dinheiro, sem comida, sem saúde, sem igualdade, sem respeito. Sem absolutamente porra nenhuma.

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