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Crônicas do cotidiano

Por que tanto mau humor?

De duas, uma: é fome, ou sono.

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Por Ricardo Chapola
Atualização:
 Foto: Estadão

 Ilustração: Lucas Tonon

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Cresci ouvindo que cara feia pode ser duas coisas: fome, ou sono. O diagnóstico é caseiro. Lá em casa, era dado na lata, a olho nu, sem que ninguém hesitasse, nem questionasse. Nem tínhamos por quê. Ao final, todas as agruras da vida sempre acabavam mesmo se resolvendo ao forrar de um estômago, ao puxar de uma palha.

Isso tudo digo pelo tanto de gente emburrada que tenho visto por aí. Pode reparar. Na rua, na chuva, ou na fazenda, ou menos lá na casinha de sapê - como diria a música. Em todo lugar, pelo menor motivo que seja.

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Um colega desabafou no Facebook outro dia, dizendo estar indignado com a reação das pessoas diante do bonecão inflável do Lula que desfilou pela cidade de São Paulo no fim de semana. Ele tinha razão. É difícil entender quem tope gastar o domingão se estapeando por causa de um boneco, mesmo que houvesse mais razões para brigar. Desta vez, querendo ou não, foi só pelo boneco. Uma bobagem.

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O hábito levaria a deduzir ser fome, ou sono, mas descartei a primeira hipótese logo quando descobri que quase 60% dos brasileiros estão, hoje, acima do peso. O mau humor não deve então ser pela falta de comida. Restou o sono.

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É preciso, de qualquer modo, que durmamos. Se não mais, melhor. Se não melhor, mais - ou pelo menos mais do que uma única vez. Umas duas: à noite, como de praxe, e depois do almoço, à moda espanhola. A sesta, na Espanha, é tradição. No Brasil, podia ser lei.

Se fosse assim, os taxistas não estariam tão putos com o Uber. Ninguém esfaquearia um boneco do Lula, nem haveria quem respondesse a esse tipo de atentado. Com a sonequinha regulamentada, talvez Collor não tivesse xingado a mãe de Janot, que não tinha nada a ver com a história entre os dois. Dormindo mais um pouquinho, não seríamos tão rabugentos com quem não merece, não xingaríamos tanto no trânsito, não destilaríamos tanto ódio como temos feito pela vida, a troco de nada.Daríamos "bom dia" a quem nos desse "bom dia" e até mesmo a quem não desse. Descansados, todos seriam mais tolerantes, provando que um gay, um negro, ou um pobre pode ser tratado com dignidade num piscar de olhos.

"Mas e o humour?", pergunta Drummond. Está bem. Ele ainda tem jeito. Só está escondido atrás das nossas pálpebras. Então "dorme, meu filho".

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