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Crônicas do cotidiano

Tipo assim

Um vício, tipo, linguístico

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Por Ricardo Chapola
Atualização:

Precisava escrever, tipo assim, uma crônica. Mas uma crônica sobre o quê? Uma crônica, sei lá, sobre, tipo assim, qualquer coisa. Tipo sobre a vida. Ou sobre, tipo, o que fiz, ou, tipo, sobre o que vi, ou, sei lá, tipo, sobre uma pessoa. Menos sobre o Eduardo Cunha. Porque, tipo assim, ele já deu. Tudo menos, tipo, esse cara. Tipo, ele ja apareceu demais. Tipo assim: não dá.

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Tinha que ser, tipo assim, sobre o cotidiano, mas que nem por isso deixasse, tipo, de despertar o interesse em quem, tipo, fosse ler. Isso costuma acontecer, tipo assim, quando as pessoas se identificam com, tipo, o autor. O segredo, sei lá, é, tipo, falar de coisas em comum. Falar, tipo, de defeitos, funciona, porque, tipo, às vezes, os meus são os seus. Ou sei lá, tipo, os seus são os meus. E quando a gente vai ver, tipo, o texto que tava falando de mim, tipo, também tá falando de você. Então beleza, mas tipo assim: falar de que defeito?

Tipo, tem muitos. Tipo quem fala muito tipo assim. É um defeito que, tipo assim, se ninguém dissesse nada, nunca seria, tipo, um defeito. Talvez, no máximo, tipo, um mau hábito mais ou menos igual, tipo, a roer unha. Assim como ninguém sabe dizer, tipo, o porquê de roer unha, ninguém nunca soube explicar, tipo, essa obsessão pelo tipo assim, sendo que, tipo, o tipo assim não serve pra nada.

Quer dizer,servir, tipo, até serve. Se não a gente, tipo assim, nem usava, apesar de ser praticamente, tipo, um vício. Usamos sem perceber, enfiando um tipo assim aqui, outro ali, tipo tipo assim, sem checar primeiro se o tipo é mesmo assim , ou assado. Os linguistas, tipo, ainda estão procurando saber, tipo, as novas funções adquiridas pelo tipo assim. Muitos se renderam, tipo assim, a aceitar que não tem o que fazer: o tipo assim é o novo piercing da língua (portuguesa). Dá pra pendurar, tipo, em qualquer lugar. Vai depender do gosto de cada um.

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Quem não tem, tipo assim, muito o que dizer, costuma, tipo, encher linguiça. Ou enrolamos, fingindo, tipo assim, dominar o assunto, falando coisas muitas vezes nada a ver com nada, ou a gente, tipo, adota a estratégia do tipo assim. Seria mais ou menos como, tipo assim, sutiã com enchimento: só dá impressão de volume e, tipo assim, mais nada.

Pode até ser mesmo um modismo, tipo, irritante, mas quebra galhos o tempo todo. Evita a gente, tipo assim, de gaguejar, ou balbuciar, o que, tipo assim, convenhamos, é pior. Ou não?

O homem precisa, tipo assim, de suas muletas, um coringa na manga para usar, tipo, na hora dos perrengues. Deve ter adotado o tipo assim pelo medo que tem, tipo, do silêncio. Tipo, nessas horas, a gente, tipo, se constrange. E quando isso acontece, algumas pessoas, tipo, dão um sorrisinho amarelo. Outras passam, tipo assim, a roer unhas, tipo assim, tipo eu.

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