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Pra você que, alguma vez - ou várias - disse

Homenagem a todas as mães que erraram

Por Maria Dolores
Atualização:

Nesse dia das mães, dedico esse texto e a minha mais sincera, profunda e solidária homenagem a todas as mães que erraram. Sim, erraram. Desesperadamente tentando acertar, cometeram erros. Alguns pequenos, sem importância, outros graves, contínuos, permanentes. Erraram não uma vez, duas, três ou quantas coubessem nos dedos das mãos, mas muitas e dolorosas vezes ao longo da intensa jornada de serem mães. À mãe que entendeu que o choro do filho recém-nascido era cólica quando, na verdade, era fome porque o leite do peito não saía. À mãe que colocou o filho pequeno de castigo e mandou engolir o choro quando ele não quis almoçar e pensou que fosse birra, mas eram feridas no céu da boca e na língua. À mãe que desgastou por um ano a relação com o filho porque ele não fazia as coisas da escola direito e só então, depois de muita briga, muito xingo e muito sentimento agredido, descobriu que ele não enxergava bem e que um par de óculos teriam resolvido o problema e evitado um ano sofrido. À mãe que deixou o filho por horas e mais horas na televisão enquanto um lindo dia de sol convidava do lado de fora. Não porque acreditasse nos poderes lúdicos, divertidos e socializantes do aparelho de TV, mas porque estava morta de preguiça. Exausta, exaurida. À mãe que fez tudo o que podia pelo filho, tudo, e acabou por não lhe ensinar que ele deveria, um dia, sobreviver sozinho, e não o ensinou a fazer a própria cama, a encontrar os próprios amigos, a batalhar a própria comida, a resolver os próprios problemas e a ser feliz sozinho. À mãe que, sem saber, colocou as suas frustrações e expectativas no filho e o viu ter uma vida infeliz na medicina, porque, sim, ele foi médico como ela queria, e não astrólogo como ele sonhou um dia. À mãe que, no fundo, desde sempre, sabe que errou, que ainda vai errar - e carrega eternamente o peso dessa culpa. Porque foi tentando acertar, desesperadamente, que ela errou tanto. Porque os filhos não vêm com manual de instrução, e são sempre uns diferentes dos outros. São um presente com um mapa secreto, pequenas e complexas surpresas que são descobertas a cada dia. Umas felizes, a maioria. Outras nem tanto. E a mãe as recebe e tenta lidar com elas. Fazer o seu melhor, porque quer que o filho seja feliz, quer fazer bem o seu papel de mãe, e quer que ele, quem sabe, erre menos do que ela errou um dia.

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