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Mitos e verdades sobre a depressão pós-parto

A depressão pós-parto atinge uma a cada sete mães, de acordo com pesquisas americanas

Por Zé Enrico Teixeira
Atualização:
A presença da família nesse momento é muito importante, tanto antes quanto durante o desenvolvimento do quadro de depressão Foto: Jessica Pankratz/ Creative Commons

O nascimento de uma criança é sempre um momento de turbulência, e embora seja uma época de alegria para a família, a expectativa durante a gravidez e a época logo após o parto também podem ser complicadas para a principal figura relacionada ao bebê: sua mãe. Mesmo que a criança nasça em perfeitas condições, saudável, e receba todo o suporte do pai e do resto da família, é grande o número de mulheres que após dar a luz reclamam de tristeza e certa irritabilidade. Isso é normal, afinal elas passaram por um turbilhão hormonal nos últimos meses.

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No entanto, a família deve ficar atenta se esse quadro de melancolia não se mostrar passageiro e não desparecer em alguns dias, ou se vier a surgir algumas semanas depois do nascimento. "Esses sentimentos podem ser passageiros e diminuir com o tempo. Porém, eles também podem evoluir para um quadro mais grave de apatia e rejeição ao bebê", explica Ivan Morão, psiquiatra do Hospital e Maternidade São Luiz. Nesse caso, essa mãe pode estar sofrendo de depressão pós-parto. 

A depressão pós-parto costuma atingir uma a cada sete mães, de acordo com pesquisas americanas. No entanto, de 50% a 80% das mulheres também apresentam uma tristeza puerperal ou pós-parto, também conhecida como "baby blues". Por isso é importante saber diferenciar ambas para buscar a melhor assistência.     1. Diferenças. A tristeza puerperal surge, geralmente, no terceiro dia após o parto, e costuma durar no máximo duas semanas. A mulher está passando por uma fase hormonal complicada, além de sofrer com privação do sono. Então ela estar irritada e melancólica é normal. Recomenda-se à família aguardar, pois esses sintomas deverão sumir em pouco tempo.

Já a depressão pós-parto costuma surgir algumas semanas após o nascimento do bebê e deixa a mulher incapacitada para realizar as tarefas do dia a dia. Não há distinção clínica entre a depressão pós-parto e a depressão, a não ser o período específico. Geralmente a depressão pós-parto costuma sumir até um ano depois do nascimento, mas, é preciso ficar atento, pois o quadro pode se prolongar além desse período.     2. Por quê? O pós-parto é marcado por uma alteração hormonal muito grande. Durante a gestação, o corpo feminino é submetido a elevadas doses de hormônios como progesterona e estrógeno, que agem no sistema nervoso. De repente, os níveis desses hormônios caem bruscamente algumas horas após o parto, o que pode ser um fator importante no desenvolvimento de transtornos pós-partos.

Mas, além da parte hormonal, também há mulheres que encaram a gravidez e a mudança de estilo de vida que ela traz não como um ganho, mas como uma perda: de beleza, de convívio social, de chances profissionais. Isso pode fazer com que a mãe desenvolva um quadro de rejeição a criança. Também deve-se ficar atento caso a gestante já tenha apresentado casos de depressão anteriormente. Se uma mãe já sofreu de depressão pós-parto antes, a chance do problema voltar a se repetir em uma outra gravidez é de 50%. A probabilidade se repete quando falamos de quadros de depressão em outros momentos da vida.     3. Sintomas. Os sintomas da depressão pós-parto são os mesmos da depressão: variações de humor para tristeza, fraqueza, desinteresse, apatia, irritação. Vale ressaltar que durante a depressão pós-parto, a mulher não apresenta esse desinteresse e apatia apenas em relação ao bebê. A tristeza não tem relação com ela não se sentir uma mãe incapaz, mas permeia outros aspectos da sua vida e faz com que ela perca o interesse por seus programas favoritos, livros, trabalho e outras coisas que poderiam lhe dar prazer antes.

Outros sintomas importantes são as alterações de apetite, tanto para mais quanto para menos, sonolência, falta de energia o dia inteiro, o desejo sexual que não retorna.

Ansiedade e ataques de pânico, caso ela não sofra desse transtorno, e comportamentos obsessivos em relação à criança também podem ser sinais de depressão pós-parto.     4. Riscos para o bebê e para a mãe. Muitas pessoas podem achar que uma mãe que sofre de depressão pós-parto representa um risco físico para o bebê. Uma outra distinção importante a fazer, nesse caso, é entre a depressão pós-parto e a psicose puerperal - que é quando a nova mãe perde o contato com a realidade logo depois do parto e pode acabar machucando o filho sem a intenção. Felizmente, os casos são raros (um a cada cem mil), e mesmo quando as mães apresentam esse quadro, é muito difícil que elas cheguem a ferir a criança.

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O maior risco para o bebê é, na verdade, o desinteresse que a mãe acaba tendo por si mesma e, como consequência, pelo bebê. A mãe tem menos interesse em amamentá-lo, em brincar com a criança, em estimulá-lo emocionalmente.

Isso pode ter reflexo num desenvolvimento neuropsicomotor mais lento, e a criança aprende a andar e falar mais tardiamente.    5. Tratamento. O tratamento para os casos de depressão pós-parto necessita de um misto de abordagens. O uso de medicamentos é sempre fundamental, apesar de, em muitos casos, a depressão passar naturalmente, há um risco significativo dessa depressão se tornar crônica, ou uma distimia - uma forma mais leve de depressão que interfere na capacidade de raciocínio da pessoa, e que muitas vezes é considerada apenas um traço de personalidade da mulher, o que faz com que nenhuma providência seja tomada.

Muitos se preocupam com os efeitos dos remédios sobre o bebê durante a gestação e depois, na fase de amamentação. No entanto, já foi comprovado que tanto os medicamentos mais antigos (os tricíclicos) quanto os mais modernos (como os inibidores de recaptura de serotonina) são seguros e não apresentam riscos de malformações nas crianças nem alterações em seu comportamento.

Quanto à amamentação, por terem uma metabolização mais rápida no corpo da mãe, os medicamentos apresentam baixa concentração no leite. Mesmo assim, é indicado que se descarte o leite retirado algumas horas depois de tomado o remédio, no qual seus componentes estão mais concentrados, e oferecer um outro, colhido mais tarde.

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A depressão pós-parto não se restringe apenas ao quadro hormonal e ao tratamento psicofármaco, mas sim a questões sociais e familiares nas quais esse tipo de medicamento não tem efeito. A pscioterapia também é muito importante para ajudar a mulher a lidar com essa mudança e descobrir que tem um potencial que precisa ser estimulado.     6. Família. A presença da família nesse momento é muito importante, tanto antes quanto durante o desenvolvimento do quadro de depressão. Estar em um ambiente acolhedor - onde a mulher se sinta segura e amparada - e quanto mais esclarecida ela estiver sobre a sua nova realidade, menor é a chance da doença se desenvolver.

E se, ainda assim, a depressão ocorrer, o apoio e o conforto dado pelo pais e outros familiares é essencial, assim como tentar compreender a situação sem julgamentos.  

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