Ouvir música durante a corrida pode influenciar o desempenho?

Atletas e especialistas falam sobre os benefícios e malefícios dos fones de ouvido para os corredores amadores e profissionais

PUBLICIDADE

Por André Cáceres
Atualização:

Enquanto alguns gostam de praticar esportes ao som ambiente ou escutando os sinais do próprio corpo, outros preferem a companhia da música na hora de se exercitar. É o caso de Thiago Perrucci, corredor amador que ouve 'hits' eletrônicos enquanto faz seus percursos. "Costumo correr com música só quando estou sozinho. Acredito que ela influencia no desempenho, mas que isso é muito particular", conta.

PUBLICIDADE

Ele diz que isso o ajuda a superar seus limites em provas extensas. "Durante uma maratona no ano passado, foram 3 horas e 55 minutos correndo. É muito tempo, então eu sinto extrema necessidade de ocupar a mente com música", conta o corredor. Perrucci também participa de um grupo de corrida e relata que durante os treinos coletivos há caixas de som espalhadas pelos locais. "Mas nesse caso não é a música que me estimula a melhorar, e sim o contato com as pessoas", ressalta.

Em 35 anos de corrida, Ademir Gatti já disputou 545 competições, das quais 56 foram maratonas. Ele admite que a prova é solitária, mas não recomenda os fones de ouvido. "Atleta de ponta não usa isso. Quem corre a passeio não se importa com a música, mas para quem compete ela atrapalha a concentração", afirma.

Ouvir música durante a corrida pode ser prazeroso, mas também pode prejudicar a audição após longos períodos Foto: Jeff Drongowski / Creative Commons

Gatti explica que quem corre sem grandes pretensões de performance não se atrapalha ouvindo música, mas para quem pratica o esporte em alto nível isso pode ser prejudicial. "Você acaba não sentindo seu ritmo e se cansando. Quando se treina para correr competitivamente, você presta atenção na sua frequência cardíaca e na respiração, para equilibrar o grau de oxigênio que entra", acrescenta.

Ouvir música ou não durante a corrida é uma preferência muito particular. Se ela torna a prática do esporte mais prazerosa para quem gosta, também pode prejudicar a audição após longos períodos de exposição. O impacto real no desempenho dos corredores, entretanto, ainda não é uma unanimidade do ponto de vista científico, segundo Ricardo Nahas, Coordenador do Centro de Medicina do Exercício e Esporte do Hospital 9 de Julho. "Não tem grandes comprovações, há estudos dos dois lados", diz.

O especialista acredita que há quem se beneficie da combinação entre música e corrida, mas também quem não consiga lidar com a distração sonora. "Já vi as duas coisas, tanto que, para alguns, a música chega a ser indispensável. Por outro lado, há pessoas que ficam muito distraídas e acabam perdendo seu ritmo porque prestam atenção demais no som", explica.

Nahas alerta: "é importante que a pessoa preste atenção. Se a música representa uma distração, eu não recomendo, porque ela pode se machucar. Se correr na rua, pode não ouvir uma buzina ou não enxergar um buraco, pode inclusive se exceder naquele ritmo proposto pela música".

Publicidade

O médico destaca que a influência dos fones varia de pessoa para pessoa e pode ser positiva ou negativa. "Há jogadores de futebol que não ouvem a torcida em volta e conseguem se concentrar com o barulho, já outros se escondem, somem no jogo. O paralelo é mais ou menos o mesmo", compara.

Segundo o preparador físico Junior Mrotzeck, a perda de fôlego e a fadiga muscular são os principais problemas para quem corre ao som das canções favoritas. "Geralmente as pessoas ouvem músicas motivacionais, elas te fazem correr mais rápido, mas às vezes você não está preparado para um ritmo mais forte", explica.

Ele reconhece que existem benefícios na prática, e acredita que ela pode ser de grande ajuda para alguns tipos específicos de pessoas. "Se você corre visando só lazer, ela entra como uma ferramenta de motivação e de distração", analisa. "Mas visando uma melhora de performance, acaba atrapalhando, pois tira a atenção do que está acontecendo ao seu redor", completa.

Ele alerta para as restrições quanto à utilização de fones de ouvido durante a prática de corrida. De acordo com Mrotzeck, escutar música em terrenos acidentados, em competições ou na rua não é seguro e pode causar acidentes. Ele revela um conselho que costuma dar aos alunos: "você precisa estar atento ao que o seu corpo fala, mas se estiver ouvindo música, não vai conseguir escutar esses sinais".

PUBLICIDADE

Tecnologia. É claro que o gosto musical é um tema extremamente subjetivo, mas nem sempre as músicas favoritas são as mais eficazes para se ouvir enquanto corre. Aplicativos gratuitos como PaceDJ, disponível para Android e iOS, e Record Beater, presente no Android, se baseiam nas batidas por minuto das músicas presentes na biblioteca do celular, identificando o ritmo das passadas do usuário para criar a trilha sonora ideal para o exercício.

Não necessariamente as canções mais bonitas ou animadas são as melhores, mas sim aquelas cujas batidas por minuto sincronizam com a frequência da corrida. Esses aplicativos podem ajudar muito quem tem dificuldade para se concentrar no próprio ritmo. Além deles, existem outros programas que podem ser instalados no smartphone como acompanhamento para o treino, que fornecem informações a respeito do desempenho enquanto registram os detalhes do percurso.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.