PUBLICIDADE

Sobrepeso e gravidez

Obesidade está ligada a inúmeras dificuldades durante a gestação e no trabalho de parto

Por Jane E. Brody
Atualização:

Ilustração: Sandra Dionisi/NYT

PUBLICIDADE

A gravidez, ou o desejo de engravidar, quase sempre leva as mulheres a se cuidarem melhor - deixando de fumar ou comendo de modo mais saudável, por exemplo.

Mas agora elas enfrentam um problema cada vez mais comum: a obesidade, que afeta 36% das mulheres em idade de procriar. Além de dificultar a concepção, a obesidade - definida com um índice de massa corporal acima de 30 - também está ligada a inúmeras dificuldades durante a gravidez e no trabalho de parto. E esses problemas vão desde a diabetes na gestação, a hipertensão e a pré-eclâmpsia até o aborto, parto prematuro, operações cesarianas de emergência e morte do feto.

Os bebês de mulheres obesas têm mais probabilidade de nascer com defeitos congênitos e correm grande risco de morrer logo após o parto. Os que sobrevivem podem desenvolver hipertensão e obesidade quando adultos.

Muitas crianças nascidas de mulheres obesas e com sobrepeso são saudáveis. Mas uma análise de 38 estudos, publicada recentemente, concluiu que mesmo aumentos modestos de peso antes da gravidez elevam os riscos de morte do feto durante a gravidez, e morte súbita do recém-nascido.

Preconceitos e preocupações pessoais quanto à responsabilidade profissional levaram alguns obstetras a evitar pacientes obesas. Mas Sigal Klipstein, presidente da comissão de ética do American College of Obstetricians and Gynecologists, afirma que está na hora de os médicos deixarem de lado o preconceito e o temor. Eles precisam adotar medidas positivas para tratar as mulheres obesas grávidas ou querem engravidar.

Ela e seus colegas divulgaram recentemente um estudo sobre questões éticas no tratamento de mulheres obesas. A obesidade é comumente vista como uma falha pessoal que pode ser evitada ou revertida por meio da motivação e a força de vontade. Mas os fatos sugerem o contrário.

Publicidade

Embora algumas pessoas tenham conseguido perder até 45 quilos sem necessitar de cirurgia, muitas pacientes obesas afirmam ter tentado tudo e nada funcionou. "Muitas mulheres obesas não estão comendo demais ou ingerindo alimentos errados deliberadamente", disse a médica. "Os obstetras não devem abandonar as pacientes porque acham que elas estão fazendo alguma coisa errada".

A médica Klipstein é endocrinologista na InVia Fertility Specialists em Northbrook, Illinois. Com base na sua experiência, as mulheres que conseguem emagrecer normalmente estão bastante motivadas e adotam um programa de emagrecimento. 

"Mas muitas malogram apesar de estarem muito ansiosas para engravidar e terem uma gravidez saudável", disse ela. "Esta é a nova realidade e os obstetras têm de estar conscientes disto e saber como tratar pacientes com problemas de peso".

O relatório da comissão enfatiza que "mulheres obesas não devem ser vistas de modo diferente de outros tipos de pacientes que exigem cuidados adicionais ou têm aumentado o risco de consequências médicas adversas.

PUBLICIDADE

"Pacientes obesos devem ser tratados "de maneira não crítica", afirma o estudo, acrescentando que não é ético da parte dos médicos recusarem-se a tratar uma pessoa "unicamente porque é obesa".

Os obstetras devem discutir os riscos médicos associados à obesidade com suas pacientes e "evitar criticá-las por terem ganho peso", diz a comissão. Qualquer médico que se sinta incapaz de oferecer os cuidados necessários e eficazes a uma paciente obesa deve se consultar ou então enviar a mulher para outro médico.

Os índices de obesidade são mais altos entre mulheres "de condição socioeconômica mais baixa", observa o estudo, e muitas não têm "acesso a alimentos saudáveis e oportunidade de se exercitarem regularmente, o que as ajudaria a manter um peso normal".

Publicidade

No entanto, mulheres obesas que desejam ter um filho não devem abandonar os esforços para emagrecer. Obstetras não especialistas em programas de emagrecimento podem enviar as pacientes para dietistas que são especializados em emagrecimento sem estratagemas ou regimes para emagrecer rapidamente, que implicam outros riscos à saúde.

A perda de peso deve ser tentada antes da gravidez. No ano passado, a comissão do College sobre prática obstétrica aconselhou os obstetras a "instruir sobre possíveis complicações e incentivar as pacientes obesas a se submeterem a um programa de emagrecimento, incluindo dieta, exercícios e modificação do comportamento, antes de tentarem engravidar".

Uma mulher obesa que engravida deve ganhar menos peso do que uma mulher com peso normal. O Instituto de Medicina sugere que o ganho de peso de uma mulher grávida deve ser de seis a 11 quilos e no caso das obesas de 4 a 9 quilos.

Embora as mulheres não devam tentar emagrecer durante a gravidez, "uma mulher que pesa 136 quilos não deve engordar absolutamente. "E isso não prejudica o feto", diz a médica.

Klipstein também observou que a obesidade produz mudanças psicológicas que podem afetar a gravidez, a começar da ovulação irregular que pode resultar em infertilidade. 

As mulheres obesas podem ter problemas para processar o açúcar no sangue, o que aumenta o risco de malformações e abortos. Existe também uma grande probabilidade de a criança ser grande demais para um parto natural, pela vagina, exigindo uma cesariana que também tem seus próprios riscos envolvendo a anestesia e a própria cirurgia. 

Os bebês de mulheres obesas podem desenvolver deficiências do tubo neural - espinha bífida e anencefalia. E sofrer ferimentos no momento do parto, como distocia de ombro, que ocorre quando o nascituro é muito largo.

Publicidade

A pressão alta, mais comum na obesidade, pode resultar em pré-eclâmpsia durante a gravidez, prejudicando os rins da mãe e provocando complicações fetais como baixo peso do nascituro, partos prematuros e perda do feto.

É difícil obter imagens confiáveis nos exames de ultrassons quando a mulher é obesa. O que pode retardar a detecção de anormalidades do feto ou da gravidez que exigem um monitoramento atento ou intervenção médica. 

Tradução de Terezinha Martino 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.