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Construída com as próprias mãos

Por Elaine Louie
Atualização:
A casa de Jacob e Melissa Brillhart no centro de Miami, que segue antigo estilo arquitetônico da cidade Foto: Bruce Buck/The New York Times

Algumas pessoas gostam de construir a casa do cachorro ou a casinha na árvore. Mas o projeto “faça você mesmo” do casal de arquitetos Jacob e Melissa Brillhart foi um pouco mais complexo: eles construíram uma casa de 139,5 m² com as próprias mãos. Nunca mais repetirão a experiência, garantem agora. Brillhart, de 40 anos, acha que talvez sua decisão tenha algo a ver com a educação que receberam. 

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Quando ele tinha 5 anos seus pais reformaram uma casa de 1780. Com a ajuda da família e de amigos, derrubaram as paredes e construíram outras, lixaram os pisos e refizeram os banheiros e a cozinha. E o impressionante é que eles não trabalhavam na construção civil – o pai era engenheiro e a mãe, ilustradora. “Não acho que minha família seja tão radical”, disse Melissa, de 38 anos. Mas seu pai, executivo de empresas, tinha um hobby: reformar. Quando tinha 16 anos, ela o ajudou a demolir uma cozinha, arrancando armários e bancadas. 

Em 2011, enquanto moravam em um apartamento de um quarto em Miami Beach, na Flórida, o casal decidiu construir sua própria casa. Lembrando a disposição dos pais a fazer tudo sozinhos, Brillhart pensou: “Se eles podem fazer isso, por que nós não podemos?”.

Na empreitada, frequentemente receberam ajuda. Depois de comprar um terreno de pouco mais de 2 mil m² no centro de Miami por US$ 165 mil (cerca de R$ 430 mil), optaram pelo projeto ‘Florida modern’, um estilo de arquitetura que privilegia espaços abertos, muito popular por aqui na metade do século passado. E conseguiram encontrar arquitetos que haviam projetado algumas das casas originais para assessorá-los. 

“Eles nos ensinaram a voltar ao básico, às estratégias consagradas”, disse Brillhart. “Ventilação cruzada e orientação do edifício de maneira que o alpendre da frente bloqueie a luz direta do sol nos vidros, para não aquecer os interiores.” Eles também assessoraram o casal sobre como montar a estrutura de aço e a subestrutura de madeira. 

Quando o casal comprou madeira ipê em uma loja de Fort Lauderdale, o proprietário permitiu que eles usassem o espaço e seus utensílios, para o acabamento das peças. Quando acabaram, emprestou-lhes seu caminhão para levar o material até a construção. 

O pai e o tio de Brillhart também contribuíram com a mão de obra e a família presenteou a cerejeira dos armários do banheiro e da cozinha, das molduras das portas, além das portas com venezianas para os interiores, que o pai havia comprado em leilões ao longo dos anos. 

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E, evidentemente, eles receberam a ajuda (remunerada, é claro) de encanadores, eletricistas, soldadores e carpinteiros. No entanto, nem sempre foi fácil. “Não havia divisão do trabalho”, disse Melissa. “Se havia algo que eu conseguisse fazer, eu o fazia fisicamente.” Inclusive a colocação das vigas e a construção do contrapiso. 

A casa foi concluída há pouco tempo e custou US$ 375 mil (R$ 980 mil), mas eles se mudaram um ano e meio antes, enquanto a construção ainda estava pela metade, e viveram nela com pouco conforto: uma ducha mínima, as pias dos banheiro e da cozinha, um fogão de segunda mão e um colchão. Construir a própria casa é possível, ao que parece, mas nem sempre é tão divertido. “É fisicamente desgastante”, disse Brillhart. “Não faremos outra vez.” 

/ Tradução de Anna Capovilla

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