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Design tailandês: um pé na tradição. E o outro, no futuro

Contemporâneo, mas sem abrir mão da tradição artesanal, design tailandês busca inserção internacional

Por Marcelo Lima
Atualização:
Pendente de Anon Pairot, feito com lápis, apresentado na mostra Thai Craftology, em Milão Foto: divulgação

Há 50 anos, a Tailândia produzia artesanato, a pedido. Hoje, busca se integrar ao mercado global por meio de um design próprio e contemporâneo, mas que não abre mão de suas milenares tradições. “Não somos tão high-tech quanto a Coreia do Sul ou Taiwan. Nossas raízes artesanais estão no nosso sangue, mas nem por isso pretendemos deixar de lado a produção em massa”, resume o empresário tailandês Eggarat Wongcharit.

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“Vinte ou trinta anos atrás, nossa indústria se ocupava exclusivamente de reproduzir projetos. Hoje caminhamos para um design que, já na sua origem, surge integrado à produção”, afirma Wongcharit, o curador de Thai Craftology, nome, um tanto hermético, de uma exposição desenhada para apresentar ao mundo o fazer artesanal tailandês, que aconteceu no Superstudio Più, em Milão, durante o Salão do Móvel, em abril deste ano. 

Propondo um itinerário por 26 empresas tailandesas (recém-chegadas ou já consolidadas no mercado local), a exposição se propôs a mostrar como artesanato e tecnologia podem – e de fato parecem – caminhar juntos no país do sudeste asiático. Ou ainda como referências caras à imagem do país no exterior -notadamente sua flora e sua hospitalidade- podem ajudar a impulsionar a difusão de seus produtos ao redor do mundo.

“Procurei ressaltar como nossa indústria está se adaptando ao mercado internacional, rumo a um design verdadeiramente contemporâneo”, comenta ele, citando o que considera ser o marco zero do novo design tailandês: a crise econômica de 1997, quando muitas empresas do setor criativo – design, interiores, artes – foram à falência e tiveram de demitir muitos seus funcionários. 

“Foi quando eles começaram a abrir seus próprios negócios e a criar produtos com o que encontrassem à mão. Mesmo sem saber, acabaram inaugurando um novo processo de concepção”, explica Wongcharit, pesquisador e um dos maiores incentivadores do design de seu país. “Acredito firmemente que a qualidade de nossos materiais e técnicas tradicionais, combinadas às tecnologias atuais, podem nos levar a produzir um design de uma qualidade até alguns anos inimaginável.”

Segundo ele, a primeira iniciativa governamental para levar o estilo de vida tailandês para a arena do comércio internacional, o projeto Thai Talent, de 2004, surtiu efeito duplo: ofereceu oportunidade de inserção para jovens profissionais e ajudou a elevar o nível de móveis e artigos decorativos produzidos no país. “Foram eles, os primeiros participantes, que se tornaram modelos para a geração atual”, conta.

Para o curador, frente a um cenário econômico mundial que está passando por mudanças aceleradas com a ascensão de países emergentes, sobretudo na Ásia e na América Latina, a hora do design tailandês é agora. E a estratégia responde pelo nome de identidade. “Nos últimos 30 anos, nossa indústria de turismo criou um mercado robusto de produtos inspirados e sugeridos pela nossa tradicional hospitalidade. Por isso, me parece natural que nosso design caminhe nessa direção”, argumenta.

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De fato, uma rápida passada de olhos pela seleção de objetos organizada por Wongcharit não deixava maiores dúvidas sobre tal vinculação. Diretamente ou não, era perceptível a atenção que os designers tailandeses parecem dedicar a fatores multissensoriais ligados à ideia do bem receber– seja em casa, no hotel ou mesmo no escritório – na hora de projetar ou de definir as prioridades em seus projetos.

Assim, cadeiras e poltronas exibiam assentos ampliados em direta contraposição a seu peso reduzido. As almofadas, colorido vibrante, brilho intenso e suavidade ao toque. Sem falar das luminárias de fibras naturais, que primavam pela leveza e pelos efeitos de luz. Tudo tailandês na forma, mas contemporâneo no conteúdo.

“O futuro do nosso design depende da correta compreensão de nossas raízes históricas e do pleno acesso à novas tecnologias e mercados. A nova geração de designers tailandeses traz no seu DNA a consciência de nossas raízes. Basta que ela esteja afinada com a evolução global para que nosso design floresça e ganhe mercados mundo afora”, conclui, otimista, Wongcharit, que para 2015 já conta com espaço reservado no Superstudio Più.

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