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A magia do azul e branco

A combinação dessas duas cores - em um vaso, um quadro ou até em um jeans e camiseta - é uma verdade absoluta

Por Maria Ignez Barbosa
Atualização:

Em fevereiro passado, em pleno inverno, tudo era branco e azul no andar home da mansão de Ralph Lauren em Nova York. A impressão foi de estarmos em pleno verão, à beira de um mar azul com ondas de espuma branca. Não por acaso, portanto, a nova coleção do designer ganhara o nome de A Praia.

 

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De cara fresca e aparência de novidade, a tradicional mistura de branco e azul não perde a magia nem a sua corte de fiéis seguidores e apaixonados. Faz sonhar com campos de lavanda, nuvens em dia de céu claro, manto de Nossa Senhora, azulejos portugueses, portas e janelas de casas coloniais, porcelana cebolinha e lençol Porthault de linho branco com cravos azuis.

 

Se é que existe no mundo alguma certeza absoluta, é que não se erra sobrepondo o azul e o branco, e que com a mistura se pode brincar à vontade. Quem, num jeans azul e camiseta branca, há de fazer má figura?

 

Outra certeza é que o azul e branco faz também parte do universo das artes plásticas. Como não lembrar da famosa A piscina, pintada por Matisse no verão de 1952, uma instalação arquitetônica com recortes azuis sobre branco? Ou deixar de pensar em Yves Klein, que, numa performance, mergulhou literalmente na tinta azul e, com o próprio corpo, pintou as paredes brancas da galeria, acreditando que o tom por ele inventado e que chamou de International Klein Blue, tinha o poder de nos transportar à espiritualidade.

 

Mais ao nosso alcance, vale visitar a Estação Pinacoteca, onde, desde o dia 19 de junho, está em exposição o trabalho da artista plástica carioca Beth Jobim, filha de Tom e de Ipanema, que escolheu o azul ultramar para, com linhas contínuas traçadas sobre o espaço da pintura branca, organizar diferentes formas geométricas que se destacam da tela, ocupam o ambiente e compõem uma imponente instalação arquitetônica que nos faz sentir como se estivéssemos num templo moderno de meditação.

 

Variações. Óbvio que há azuis e azuis, e variações também de branco. Frios e quentes. Tranquilos e agitados. Dar ao contraste das duas cores um aspecto inesperado, agregar criatividade à mistura, obter tonalidades de impacto, conseguir efeitos e contrastes e evitar incompatibilidade entre as estampas vai depender do olhar apurado dos mais talentosos. Para inspiração, aos que desejam brincar com a mistura, bastaria a natureza, a flora e a fauna, os pigmentos tirados das flores e das conchas, os tons menos ou mais arroxeados das flores, as tonalidades do lápis-lazúli, das safiras e turquesas. Mas é também possível buscá-la na produção cultural e artesanal de povos bem diversos e distantes.

 

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Tanto no Islã, como no Marrocos, China, Índia, África e Europa, o azul e branco, embora com motivos distintos, se fez presente na cerâmica, na azulejaria, nos mosaicos que decoram mesquitas, na estampa de tecidos, nas listras dos tapetes e na pintura decorativa de igrejas, templos e casas. Sem dúvida, o azul e branco, desde as mais remotas eras, já encantava os ceramistas. E a razão da existência de tanto azul na porcelana e na cerâmica no mundo islâmico e da China teria sido a grande quantidade de cobalto disponível no Oriente Médio, originário do Beluquistão. Em Istambul, no Palácio de Topkapi, é possível admirar a fantástica coleção de porcelanas trazidas da China no lombo dos camelos pelos persas e pelos turcos que as trocavam por cobalto.

 

Novas técnicas. No primeiro período da porcelana produzida na Inglaterra, apesar de idealizadas e desenhadas por famosos desenhistas como os três Thomas, o Davis, o Lucas e o Minton, os motivos eram chineses. De vez em quando, em meio a chinoiserie, iríamos notar num pagode chinês um arco de estilo italiano ou descobrir uma casinha típica holandesa junto a um chorão. A europeização no universo da cerâmica, se deu muito lentamente, na medida em que novas técnicas e habilidades foram sendo desenvolvidas. Não sem razão, portanto, que china, em inglês, quer dizer louça.

 

Para os egípcios, o índigo, antiga tintura vegetal, era símbolo de poder e de imortalidade. Em algumas culturas, a cor azul pode estar associada à riqueza e à prosperidade. E porque, para muitos, significaria também pureza e serenidade, o vidro azul cobalto foi muito popular durante a depressão econômica.

 

Fascínio. O azul é uma cor que, sobretudo no contraste com o branco, pode provocar respostas emotivas. Lembro do fascínio que, em pequena, me causava ver a lavadeira de minha avó jogar a pedrinha azul de anil no balde de roupa branca. Se, para muitos, o azul é cor de calmaria, para outros é cor perturbadora. Ainda há quem possa se lembrar da vida pré-caneta Bic, tempos do mata-borrão, quando no colégio tínhamos de carregar as canetas tinteiro com aquele azul mais que azulão da marca Quink, e que tanto se destacava na página branca.

 

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Transportado para a decoração, usar tons de azul mais escuro na parede pode funcionar melhor do que tons claros. Há de exigir mais coragem, mas o resultado poderá ser mais expressivo e interessante. Uma atitude mais confiante vis-à-vis o uso de cores afirmativas já foi adotada pelos que se dizem fartos do excesso de branco na decoração contemporânea. Certamente os tons mais escuros funcionarão melhor como pano de fundo para coleções de porcelanas, quadros e gravuras.

 

Importante é que não se exagere na palheta, que haja equilíbrio e harmonia entre as estampas, que certos padrões não abafem outros, e que também não se tenha medo de escolher uma terceira cor, como o amarelo ou algum tom de rosado ou vermelho para detalhes e como chamamento a um maior contraste. Nada mais lindo do que flores coloridas em um vaso azul e branco.

 

A mistura foi bem usada nos castelos e palácios na Suécia, onde a base de muito azul claro e branco foi copiada de Versalhes, sem abusar dos dourados. E vai ser tão bem-vinda numa toalha de mesa na Provence ou como extensão das cores do céu e do mar numa casa de praia na Bahia ou no Ceará.

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http://www.mariaignezbarbosa.com/

 

 

Beth Jobim, atualmente expondo na Estação Pinacoteca, nos leva a meditar e a mergulhar no azul e branco

 

 

O quadro do pintor rococó Jean-Baptiste Pillement serve de pano de fundo ideal para a coleção de vasos de porcelana Delf

 

 

Na bela cozinha da Embaixada do Brasil em Londres, antigos azulejos holandeses revestem todas as parede

 

 

Vem de diferentes países estes bem engomados guardanapos e toalhinhas de mão bordados em azul e branco

 

 

A escultura feita da junção de duas cadeiras, de Dakota Jackson, quebra a placidez da composição azul e branca na parede, de Ellsworth Kelly

 

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