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Azulejos por toda casa

Recuperando tradição modernista, revestimento sai das áreas molhadas e ganha espaço no resto da casa

Por Gabriela Korman
Atualização:

Reconhecido como material de qualidade funcional, o azulejo vem readquirindo o status artístico e sai da cozinha e banheiro para os quartos e salas. Respaldados pela herança da azulejaria modernista brasileira, artistas e arquitetos trabalham na reconfiguração do material, que passa de mero revestimento prático para objeto decorativo atraente.

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Alexandre Mancini, discípulo da tradiçção de Athos Bulcão, é considerado um dos principais nomes da azulejaria brasileira contemporânea. O artista acredita na valorização do azulejo como suporte artístico integrado aos espaços arquitetônicos. “À medida que as pessoas se interessam pela utilização do azulejo elas começam a enxergar o potencial plástico de expressão que o revestimento tem”, afirma. 

Em grande parte de seus painéis (foto acima), Mancini utiliza o conceito da composição modular aleatória. O resultado se mostra em obras que harmonizam o espaço e instigam a participação dos espectadores através da percepção sensorial. As obras, assinadas e datadas, dão destaque ao conceito de azulejaria residencial. Para Mancini, pode ser interessante colocar o painel na sala de estar ou no hall de entrada da casa. “Como trabalho artístico, o azulejo necessita de um espaço que o valorize dessa forma. Assim, o painel torna-se um ponto de referência da casa, além de conferir personalidade ao ambiente.”

A arquiteta Bruna Albuquerque monta painéis de azulejos para transformar espaços com desenhos e cores. Em 2010, ela criou a Lurca Azulejos, marca que serve de base para sua produção. Os 40 modelos podem ser comprados por metro quadrado, mas a empresa também oferece kits que misturam desenhos.No projeto assinado pelo escritório Casa 14, em São Paulo, o painel de azulejos (foto acima) foi criado com o modelo Laje.

A outra opção são painéis personalizados, assinados pela arquiteta. O orçamento é feito de acordo com o local e o tamanho da parede. “Tem muita gente que me diz que queria um revestimento diferente, pois são sempre os mesmos modelos no mercado. As pessoas querem algo especial”, diz Bruna, que sugere a instalação de um painel completando uma parede na sala de estar.

Criado em 2011 pelos designers Bruna Vieira e João Tolentino e pelos arquitetos Diego Uribbe, Duke Capellão e Rodrigo Kalache, o Coletivo Muda se dedica a instalações urbanas com painéis compostos por módulos (foto abaixo) com revestimentos como azulejos e ladrilhos hidráulicos, combinados a uma estética gráfica contemporânea. Os painéis são pensados especificamente para aquele local e cada módulo é estudado para manter a harmonia da composição, tornando o espaço mais lúdico, diversificado e colorido. Os cinco integrantes participam da criação e produção, fazendo a pintura dos azulejos. 

O grupo segue a técnica tradicional, com painéis colados diretamente na parede, mas também adota outra metodologia: painéis móveis desenvolvidos com madeira. Segundo Kalache, o trabalho tem chamado atenção. “Cada vez mais as pessoas têm pedido para pôr em salas, áreas comuns de prédios e até mesmo fachadas”, comenta.

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Athos Bulcão como referência

0 Arquiteto, escultor, pintor, desenhista e mosaicista, Athos Bulcão, morto em 2008, aos 90 anos, é o grande nome da azulejaria modernista brasileira. Nascido no Catete, no Rio, foi amigo de alguns dos mais importantes artistas brasileiros modernos, como Carlos Scliar, Jorge Amado, Pancetti e Enrico Bianco. Aos 21 anos, conheceu Portinari, com quem trabalhou como assistente no mural de São Francisco de Assis, na Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte. Como artista plástico, colaborou com Oscar Niemeyer, integrando o esforço na construção de Brasília, a partir de 1957. Na cidade, deixou sua marca, na forma de painéis com desenhos geométrico, espalhada por edifícios como o Palácio da Alvorada, o Aeroporto Internacional Presidente Juscelino Kubitschek, a Universidade de Brasília e o Congresso – não á toa, é conhecido como “o artista de Brasília”.

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