Bangalô dos sonhos

De La Lastra fez de sua casa no litoral norte um refúgio para relaxar e reunir amigos

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Por Bete Hoppe
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Casa do cabeleireiro Francisco de La Lastrano litoral norte paulista. Foto: Zeca Wittner Quando consegue folga das tesouras e secadores, Francisco de La Lastra escapa para seu refúgio à beira-mar, no litoral norte de São Paulo, onde se entrega a outras ondas. Escorada na parede da garagem, na entrada, a prancha insinua o hobby do dono. "Se não estou viajando, venho todo fim de semana surfar", afirma o cabeleireiro. O estilo despojado do vestuário - bermudão, camiseta e chinelo ou pés descalços - aplica-se, de certa forma, ao desenho da construção: um bangalô de madeira sobre grossas toras, cercado pela mata atlântica. "Meu pai sempre teve barco, mas quando eu queria pegar onda era obrigado a me hospedar na casa de amigos. Então, uma casa na praia era meu sonho desde moleque. Mas queria algo diferente." Esse desejo hoje se revela na construção sobre palafitas, projetada pelos arquitetos Gui Mattos e Pérsio Mendes há 13 anos - e que levou quase dois anos para ficar pronta. "No meio da obra acabou a grana, num daqueles planos econômicos do governo. Paramos alguns meses e depois fui fazendo conforme entrava dinheiro", explica De La Lastra. O bangalô tomou forma pelas mãos do carpinteiro, e hoje caseiro, Zé Bento. "Ele e o pai só não fizeram a estrutura de eucalipto e o telhado", conta o cabeleireiro, que fez questão de usar madeira de reflorestamento e de demolição - como na porta de entrada (de peroba, R$ 1.100 o m², e de pinho-de-riga, R$ 1.500 o m², no Velhão), no assoalho de peroba e na mesa e bancos da cozinha - e idealizou a amarração das vigas (de eucalipto, entre 15 e 18 cm de diâmetro até 4 m de comprimento, custa R$ 21,50 o metro linear, na Artemad) com corda crua, dando bossa, além de quebrar o escuro da madeira. Noite adentro Vista da rua, a caixa suspensa com largas réguas verticais de taúba pintadas de azul e varandas que se projetam em bicos cobertos de piaçava (R$ 12 o pente de 2 m x 0,60 m, na Natureza Verde Quiosques) se destaca na paisagem. Do outro lado da cerca de bambu (cerca de R$ 120 o m², na Bambu Arte Móveis), o bangalô de 290 m² no terreno de 450 m² se mostra inteiro. No térreo, o proprietário montou um tipo de lounge para relaxar e recepcionar os amigos, em reuniões que, não raro, começam de dia e avançam pela noite. A madeira ganhou pinceladas de branco no teto, enquanto as palafitas e as toras que apoiam o vidro da mesa mantêm a cor natural. Entre redes e poltronas brancas, chama a atenção a chaise irregular com um providencial mosquiteiro. O próprio cabeleireiro encapou os assentos soltos com lycra preta. "É só amarrar por baixo. Uma alternativa prática e barata para mudar a cor dos móveis." Curioso é não se ver churrasqueira na casa. "Tem, sim, mas é portátil. Assim, posso carregar para qualquer canto e preparar o churrasco tanto aqui embaixo como no solário, lá em cima", esclarece. O solário é um deck de longas tábuas. A céu aberto, o terraço sobre a garagem se conecta ao bangalô por uma passarela suspensa que termina na varanda principal, na frente. Essa se incorpora ao interior da construção por meio de janelões de largos espaldares que também servem de bancos ou aparadores. Toque pessoal Dentro do bangalô mantém-se o padrão de madeira natural e paredes e forro brancos. Cozinha e salas de estar e de TV integradas ficam ainda mais claras com a luz zenital que entra pelas janelas basculantes no alto. Cor mesmo, só na ala de hóspedes. Um quarto tem paredes amarelas; o outro, verdes. Um lance acima da sala de TV, o branco impera na suíte master, com lareira de pedra. O décor tem o toque pessoal do dono e privilegia o artesanal. "Sempre viajei muito e tenho peças de vários lugares", conta. Uma dessas andanças a trabalho pela América do Sul rendeu um cesto indígena cheio de cerâmicas. Nessa mistura étnica, carrancas de papel machê venezuelanas e quadro de tecido colombiano convivem com estatuetas africanas e indonésias. Aqui e ali, detalhes que remetem ao mar, como o móbile em forma de peixe espanhol e o barco em miniatura. O paisagismo é 100% De La Lastra. "Muita planta morreu porque coloquei em pontos sem sol." A grama que cobria o quintal, recebeu pedriscos nas áreas de sombra e paralelepípedos entre o portão e a entrada. Entre as muitas plantas que vingaram, o coqueiro da entrada e as helicônias que ladeiam a escada de acesso ao bangalô. Bananeiras estão em vasos de terracota e, onde a trepadeira não cobre o muro, ele é pintado de verde.

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