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Em função do som

Na própria casa, arquiteto americano buscou soluções para evitar o barulho da rua

Por Steven Kurutzy
Atualização:
Na própria casa, arquiteto buscou soluções para evitar o barulho da rua Foto: Eric Striffler/NYT

O repórter levou poucos minutos para perceber que estava faltando alguma coisa na casa que Paul Masi, do escritório de arquitetura Bates-Masi, construiu há dois anos para a família. Enquanto os três filhos brincavam no andar de cima, Masi e a esposa, Liz, ambos de 42 anos, sentados à mesa na cozinha aberta com a sala de estar integrada, explicavam qual foi sua preocupação inicial ao construir no lote de 2 mil m² no centro da cidade, adquirido por US$ 840 mil (R$ 1,9 milhão) em 2012. Quando Masi se referiu à proximidade do principal problema para a localização da casa, tudo se encaixou. 

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Era o fim de semana do Labor Day nos Humptons (Long Island). Multidões entravam e saíam do café da cidadezinha. O trânsito ensurdecedor se estendia por quilômetros. O caos se assemelhava ao de Times Square, só que com árvores e aroma de tortas recém-saídas do forno. Entretanto, na casa dos Masi reinava o silêncio. 

O casal até deixara totalmente aberta a parede de vidro do mesmo comprimento da sala, transformando o quintal em uma extensão gramada do living. “Quando você sai e vai até o passeio, ouve totalmente o trânsito”, disse Masi. “Aqui dentro não se ouve nada.”

Living aberto para a área externa Foto: Eric Striffler/NYT

O som, e sua ausência, determinou em grande parte o projeto da casa. O arquiteto estudou acústica, examinou projetos antigos e analisou como o som afeta a experiência do espaço. Criou uma série de paredes escalonadas e começou levantando um muro independente ao longo da parte externa da construção. Elas funcionam como barreiras de som e projetam uma “sombra acústica” sobre a casa. Como material de construção, concreto armado, revestido de tábuas de cedro para que a casa se integrasse à paisagem. 

No interior, a casa de dois andares de 300 m², construída por US$ 2 milhões (R$ 4,6 milhões), tem características curiosas que fariam as delícias de um engenheiro de áudio. As tábuas da escada (foto abaixo), por exemplo, se tornam mais grossas à medida que descem para o subsolo e mais finas à medida que sobem, mudando a frequência dos passos como que passando dos baixos para os agudos em um aparelho estéreo. 

As paredes do living estão recobertas por feltro cinza aplicado sob tábuas de cedro, colocadas aos pares, presas por colchetes de metal. O feltro contribui para abafar o som quando a parede deslizante de vidro está fechada, e as tábuas são ajustáveis, permitindo a Masi “afinar o espaço”. Ele queria refutar a ideia de que o modernismo é frio, e isso, segundo ele, pode ser atribuído ao eco que se produz em muitos espaços modernos. Aqui, além da falta de eco, há um calor óbvio, por causa do cedro e do carvalho que revestem os quartos, e do emprego elegante de materiais como mármore branco (no banheiro da suíte) e aço envelhecido (na lareira). 

No entanto, a casa não escapa de outro clichê modernista: o vazio. Na sala de estar principal (foto abaixo), há poucos móveis além da mesa e cadeiras. A família passa a maior parte do tempo na cozinha e no living, entretanto, não havia pratos, panelas ou utensílios nem sinais visíveis de que ali se preparasse e mesmo se consumisse algum alimento. “Nós não comemos”, disse Paul, fingindo seriedade. Então abriu um armário embutido – um dos vários da casa – com as confusas realidades normais da vida doméstica. “Não”, ele disse. “Está tudo escondido.”

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Tradução de Anna Capovilla

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