Kartell lança móveis inéditos de Ettore Sottsass

Desenhada pelo criador do movimento Memphis, coleção traz bancos, vasos e luminária de plástico

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Por Marcelo Lima
Atualização:
Os bancos (2) e vasos (6) da coleção Kartell goes Sottsass Foto: Divulgação

Para muitos críticos, a história do design do ponto de vista criativo – e mesmo conceitual – pode ser dividida entre antes e depois do Memphis. Nascido na cidade de Milão na década de 1980, o movimento, capitaneado pelo arquiteto e designer austríaco Ettore Sottsass, lançou por terra a ideia de um design imposto pela indústria. Elevado à categoria de manifesto, gerou muita polêmica à sua época, mas deitou raízes profundas na cultura ocidental e ainda hoje continua a render seus frutos.

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Pelas mãos de Sottsass – e de um seleto grupo de jovens designers e arquitetos que a ele veio a se juntar pouco tempo depois –, móveis e objetos adquiriram uma dimensão estética até então inédita, ligada a novos usos, formas inusitadas e materiais que desafiavam todos os pressupostos até então existentes sobre a ideia do habitar. 

Tendo seu nome inspirado por uma canção de Bob Dylan – mas também por todo o esplendor da antiga capital do império egípcio –, o Memphis evocava um cotidiano mais colorido, mais alegre e otimista, em direta contraposição ao ideário rigoroso da escola alemã Bauhaus, que até então inspirava um desenho marcadamente funcionalista, rejeitando qualquer aspecto decorativo ligado à concepção de móveis e objetos produzidos em escala industrial.

“Realizamos objetos concretos para experimentar ideias abstratas. E no final todos acabaram nas galerias da arte”, declarou certa vez Sottsass em alusão a um conjunto de móveis, cerâmicas e objetos de vidro e metal produzidos em série limitada, entre 1981 e 1987, visivelmente inspirados por movimentos como o art déco e a pop art, incluindo temáticas futuristas e de gosto kitsch dos anos 1950. 

Originalmente avesso à ideia da massificação, ao menos na extensão proposta pelos ditames funcionalistas, nada indica, no entanto, que ao fundador da Memphis, falecido em 2007, não agradasse um dia ver seu design ao alcance de uma faixa ampliada de consumidores, exibindo qualidades excepcionais de confecção e, sobretudo, sendo produzido plástico. Um de seus materiais fetiche.

“Estou convencido de que o mestre iria se emocionar ao ver esses objetos. Esta coleção de certa forma assinala seu retorno à indústria. Um retorno que ele próprio manifestou como um de seus desejos”, declarou o italiano Claudio Luti, presidente da Kartell, durante o lançamento de Kartell goes Sottsass: uma série de móveis e objetos concebida como uma espécie de tributo ao designer, que apresenta projetos inéditos criados por Sottsass para a marca em 2004, mas que, até então, por razões de ordem técnica, nunca haviam sido colocados em produção. 

“É a primeira vez, portanto, que suas criações são interpretadas em um contexto industrial, capaz de possibilitar sua reprodução em milhares de cópias”, comemorou Luti, durante o concorrido lançamento da coleção, na última Semana de Design de Milão, em abril. Ao todo, são seis vasos, dois bancos e uma luminária cujas formas e cores não negam sua vinculação direta ao universo estético de Sottsass. Seja por sua vocação transgressora, sua geometria pós-futurista , suas cores intensas ou ainda por suas condições acentuadas de brilho.

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Para celebrar a histórica coleção, a própria Kartell resolveu se vestir à altura. Sua principal loja, na via Turati, em Milão, foi inteiramente repaginada pelo arquiteto Ferruccio Laviani, que procurou imprimir ao espaço uma atmosfera enérgica e futurista, do mais puro Memphis. Suas vitrines, por exemplo, foram demarcadas com molduras inspiradas em padrões caros ao movimento. O mesmo acontecendo com as paredes e o piso do espaço.

Completando o projeto cênico, móveis Kartell foram revestidos com tecidos inéditos, criados por designers de todo o mundo, especialmente para revestir os móveis da marca. Tomar parte neste projeto, bem como colaborar na prototipagem dos objetos criados por Sottsass, segundo Laviani, permitiu a ele prestar uma merecida homenagem à memória de seu grande mestre. “Um personagem com quem tive a oportunidade de conviver e trabalhar e que mudou indelevelmente a minha maneira de ver as coisas.” E, ao que tudo indica, não apenas a dele.

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