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Material da hora

Fácil de manipular e sustentável, a cortiça ganha espaço entre designers

Por Maria Eduarda Chagas
Atualização:

A cortiça é, na verdade, a casca do sobreiro (Quercus suber L), árvore existente em regiões mediterrâneas da Espanha, Itália, França, Marrocos, Argélia e, sobretudo, Portugal, onde há cerca de 716 mil hectares de plantação. O país é o maior produtor de cortiça do mundo e detém quase 40% do mercado, segundo o enólogo e embaixador da cortiça no Brasil, Carlos Cabral.

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Para o Diretor de Comunicação da Associação Portuguesa de Cortiça (Apcor), Carlos de Jesus, o material se destaca hoje principalmente por apresentar vantagens ecológicas. “É 100% natural, reciclável e renovável, três atributos imprescindíveis em uma sociedade como a atual, que almeja um planeta com menos poluição e é cada vez mais amiga do meio ambiente”, ressaltou.

Os designers estão atentos a toda essa funcionalidade. O paulista Guto Requena, por exemplo, usou cortiça pela primeira vez na série Alma, desenvolvida para a coleção 2014/2015 da empresa de iluminação Bertolucci. “Foi o material que escolhi para fazer a ligação entre todas as peças da coleção”, explicou Requena. “Ela é cortada a laser, leve e barata, além de ser renovável e sustentável.” O designer pretende usá-la em projetos futuros e deve ir a Portugal em breve fazer novas pesquisas.

Os jovens Vinícius Lopes e Gabriela Kuniyoshi, do Estúdio Ninho, identificaram as vantagens da cortiça cedo. Antes mesmo de fundarem o escritório, eles lançaram a luminária Post (foto acima), em 2012. “Ela nasceu da pesquisa e da escolha da cortiça como matéria-prima principal. A partir de suas propriedades, desenvolvemos o conceito da peça”, contou Lopes. O produto ganhou Menção Honrosa no Prêmio Salão Design Casa Brasil em 2013.

Depois disso, a dupla lançou a escrivaninha Easy, uma mesa de trabalho que traz um mural de recados de cortiça acoplado. “A cortiça tem para nós um aspecto lúdico muito forte, possibilitando que o usuário interaja com o produto”, destacou Gabriela. Recentemente, eles criaram o Objeto Síntese, que pode ter diversas funções, como abajur, pendente, vaso e porta-recados. Nele, a cortiça está acoplada ao sistema elétrico e permite que o usuário inverta a posição da lâmpada.

O material também já foi utilizado em mobiliário por outros designers. O catarinense Jader Almeida criou bancos e cabideiros com ele. “Gosto pela praticidade e polivalência. Outra vantagem é a fácil usinagem, o que permite formas interessantes”, comentou. No entanto, ele só percebeu realmente as potencialidades do material depois de uma visita à Serpentine Gallery Pavilion, em Londres, com projeto de Herzog & de Meuron e Ai weiwei, em 2012. Na ocasião, os artistas utilizaram cortiça para revestir o solo e assentos.

Uma das peças mais curiosas, entretanto, é a chaise do designer Daniel Michalik, feita inteiramente de cortiça reciclada. Em seu portfólio há ainda cadeiras, bancos, pufes e uma mesa que une o material a cristais Swarovski. O americano trabalha com cortiça desde 2004, quando estudava na Escola de Design de Rhode Island. “Inicialmente, escolhi a cortiça porque era barato comprar em grande quantidade. Isso permitiu que eu experimentasse muito. Nesse processo, descobri propriedades incríveis do material, como sua capacidade de dobrar em duas direções ao mesmo tempo”, contou. A chaise de Michalik foi lançada em Milão em 2005 e, desde então, ele construiu toda uma marca centrada na cortiça. “Eticamente falando, a cortiça é um dos materiais mais sustentáveis do planeta”, completou.

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