México sem clichês

Em exposição em Paris, designers mexicanos manifestam disposição de expandir suas fronteiras

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Por Marcelo Lima
Atualização:
Sofá disforme, de tecido, de Liliana Ovalle Foto: Marcelo Lima

Uso intensivo da cor, utilização de recursos ao alcance da mão e um declarado apego pela rusticidade são alguns elementos comumente associados ao design produzido no México. O que nem sempre salta aos olhos, mas nem por isso é menos representativo da produção atual do país, é o intenso intercâmbio cultural que impulsiona a criação mexicana. Em particular, se observarmos a trajetória de seus jovens designers.

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Não por acaso, a mostra Talents à la Carte (em livre tradução, talentos à sua escolha), promovida pela feira francesa Maison & Objet, que aconteceu mês passado, em Paris, elegeu o México como destino a ser prospectado. Espaço dedicado à livre expressão de designers emergentes de todo o mundo, a cada edição são seis os profissionais ou estúdios elencados. Como maior atrativo, a possibilidade de dispor de um espaço de ampla visualização internacional. 

Com o propósito declarado de reinventar os ofícios mexicanos, o estúdio de David Pompa foi um deles. Baseado no México e na Áustria, seu fundador, o designer David Pompa Alcarón estudou design de produto em Londres e abriu sua primeira loja de varejo na Cidade do México, em 2013. Desde então, Alcarón se esforça para revelar a magia que pode surgir do uso de técnicas e materiais tradicionais quando confrontados com as novas técnicas de produção.

Como acontece, por exemplo, na sua série de pendentes, confeccionados com lâmpadas LED e cúpulas de talavera: um tipo de cerâmica produzida, originalmente, apenas na cidade de Puebla e nas comunidades vizinhas, desde o século 16, que tem como principal característica o esmalte branco que recobre sua superfície e é pintada manualmente por artesãos. Segundo o designer, trata-se da primeira vez que o material foi empregado na confecção de luminárias decorativas.

Já no caso de Rodrigo Berrondo e Pablo Igartúa, a identificação com a tradição mexicana se deu por meio da marcenaria. Fundada pela dupla em 2008, a Paul Roco é uma oficina dedicada à concepção e fabricação de mobiliário de madeira. Outros materiais, como o couro e o metal, podem até entrar na pauta dos designers, mas a prioridade é e sempre será dela.

“Trabalhamos quatro anos com móveis sob medida. Acumulamos muita experiência no trato com o material, mas pretendíamos exercitar novas possibilidades. Foi quando abrimos a Paul Roco”, conta Igartúa.

Para os seis jovens designers da Cooperativa Panorámica, mais do que se identificar com uma matéria-prima específica, para atualizar a produção mexicana, é necessário explorar novos territórios. Pensar fora da curva. 

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Trabalhando em real esforço cooperativo, eles se exercitam em diversos materiais – cobre, pedra e resina, entre eles –, construindo de móveis a pratos, sempre abordando o design como um meio de expressão. “Crítica, inclusive”, como pontua Jorge Diego Etienne, uma espécie de porta-voz informal do grupo. 

À frente do Centro de Ensino Superior de Design, em Monterrey, onde dirige o departamento de desenho industrial, Christian Vivanco, outro dos designers presentes na mostra, desenvolve produtos tanto para grandes empresas de todo o mundo quanto em pequenas séries. Tendo realizado uma longa pesquisa sobre emoções associadas ao processo do design, seu trabalho se notabiliza pelo impacto imediato. Pela força de suas cores, pelo inusitado de suas formas.

Ao lado de Liliana Ovalle, uma ex-aluna do Royal College of Arts que também não economiza nas formas nem nas cores, Vivanco, entre os emergentes, é o mais fortemente identificado com o expressionismo acentuado do design do país latino. Situados na fronteira com o objeto artístico, sua inusitada mesa estante, com nichos em formato de ninho, engata parceria afinada com o sofá disforme imaginado por Liliana. E abrem novos horizontes para a criação mexicana.

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