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O décor exige o criador plural

A busca por decoradores e arquitetos preocupados com os mínimos detalhes em uma empreitada

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Por Redação
Atualização:

Decoradores de interiores não são necessariamente designers de móveis. Pensar o conjunto, escolher acabamentos, cores e revestimentos, idealizar closets, armários, cozinhas, estantes, usar peças de designers contemporâneos, antiguidades e remanejar móveis e objetos de propriedade dos clientes é, em geral, o máximo que se espera deles.

 

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A ideia do criador total, do decorador que pode se ocupar da arquitetura, do décor e de qualquer mínimo detalhe; do arquiteto que vai pensar também o mobiliário e do profissional que será ao mesmo tempo um expert em todas essas áreas é tendência recente. No Brasil já temos bons exemplos. Basta citar Isay Weinfeld, Sig Bergamin e Arthur Casas entre os capazes desse total look.

 

Já nas primeiras décadas do século passado, figuras como Jean Michel Frank e Jacques Émile Ruhlmann se faziam notar como criadores preocupados em impor um look mais despojado – em que era essencial que móveis e complementos fossem especialmente criados para uma maior sintonia. Hoje, quando aparece uma peça original assinada por qualquer um deles, o preço é quase proibitivo.

 

Na história das construções modernas, sobretudo nas primeiras décadas do século, era comum que uma casa feita por um gênio da arquitetura como Philip Johnson ou Mies van der Rohe para algum milionário à cata de empunhar um nome da moda fosse mobiliada com móveis, arte e objetos ao gosto do dono e com pouco a ver com o arrojo da nova arquitetura. Mesmo que isso pudesse desgostar o arquiteto, ele se ateria a um papel de mero projetista.

 

E, ainda que um decorador, por circunstâncias do ambiente, precisasse desenhar um móvel, a ele não seria dado o mesmo valor dos comprados em antiquários ou lojas famosas. Hoje essas raridades "de autor" vêm sendo cada vez mais procuradas, sobretudo por jovens colecionadores em Nova York, Los Angeles, Chicago, Londres e Paris. Não só a autoria como o conhecimento de para quem a peça foi criada inicialmente podem fazer multiplicar o valor.

 

Francis Elkins, que seguia nos Estados Unidos os passos de Jean Michel Frank; William Haines, o ex-ator, decorador de Hollywood que fez para George Cukor, nos anos 30, a cadeira Hostess; o francês Paul Leleu, mestre do art déco com seus móveis que traziam madrepérola incrustada por Messeger; Stéphane Boudin, à frente da Maison Jansen de 1930 a 1967, que customizou para famosos como os Duques de Windsor, o rei da Bélgica e Jackie Kennedy, são hoje as grandes estrelas. Jacques Adnet, já bem conhecido nos anos 20 e 30, que experimentou criar com materiais os mais diversos como o metal cromado, o vidro e o couro Hermés, é outro nome procurado, assim como Paul Laszlo. Refugiado húngaro que conquistou Hollywood e se preocupava com o fato de que a pasta de dentes e o pijama do dono da casa deveriam combinar com a decoração, foi dos primeiros, nas primeiras décadas do século 20, a postular a teoria do decorador plural. Num tempo em que a decoração ainda era vista como passatempo de mulheres de boa família à procura de um ofício, ele conclamava que o décor era tão importante quanto a arquitetura e que todas as formas do design e de composições decorativas deveriam ser olhadas como arte.

 

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Casa Encantada

 

Há exemplos, no entanto, de alguns decoradores que cedo conseguiram se impor e chamar atenção pelas peças que desenhavam. É o caso de T.J. Robsjohn-Gibbings, que, apesar de ter aberto em 1936, em plena Madison, um escritório de decoração, é hoje mais conhecido por sua icônica cadeira Klismos, inspirada em um antigo modelo grego, e por uma famosa poltrona de nogueira com tiras de couro entre outras muitas peças que hoje são reeditadas na Grécia. Qualquer original que fez parte do décor da Casa Encantada, em Bel Air, na Califórnia, talvez seu principal trabalho de decoração, atinge preço exorbitante quando surge em algum leilão.

 

Móveis espelhados feitos por Serge Roche em Paris nos anos 30 já atravessaram o Atlântico. São dele uma bela mesa e uma fantástica cômoda que chamam a atenção na cobertura do decorador Alberto Pinto, na Avenida Vieira Souto, no Rio.

 

As peças assinadas por Elsie de Wolfe, que em 1905 fez em Nova York o Colony Club, o primeiro clube privado de mulheres no país, são hoje best sellers, embora em sua época, o conjunto do décor é o que chamava a atenção. Não passa despercebido do público e dos profissionais do ramo quando uma instituição como essa ou como o Museu Metropolitan, por exemplo, resolvem redecorar um espaço antes decorado por um nome famoso e se veem obrigados a se desfazer do material antigo. Foi o que ocorreu quando o famoso museu americano decidiu ocupar diferentemente o espaço do restaurante, antes decorado por Dorothy Draper. Choveram interessados. Foi ela quem fez, entre tantas obras grandiosas nos Estados Unidos, como os hotéis Carlyle, Greenbier e Fairmont, o nosso Quitandinha. Ali deixou uma grande quantidade de móveis idealizados especialmente para esse hotel que tanto sucesso fez enquanto o jogo era permitido no Brasil, como a maravilhosa gaiola cheia de pássaros que ocupava todo um aposento. Hoje, com ares decadentes, foi transformado em um centro de convenções onde, ao deus dará, podem ser encontrados alguns desses móveis e vestígios de um glorioso décor.

 

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Interesse pelo vintage

 

Sente-se que, no Brasil, é hoje cada vez maior o interesse por peças vintage com história e pedigree. Em novembro de 2005, todo o mobiliário do antigo Copacabana Palace foi a leilão e não faltaram interessados pelo aspecto afetivo e histórico da venda. De São Paulo, quem compareceu e tratou de trazer peças para aqui serem vendidas foi o decorador William Maluf que, como poucos, sabe valorizar o que é Brasil para bem além do típico regional, da produção de nossos conhecidos designers de móveis modernos e dos tradicionais móveis antigos coloniais ao gosto dos colecionadores. Em sua loja, é possível nos depararmos com um sofá de vime que foi do apartamento do legendário Aparício Basílio da Silva, ou peças de antigos décors feitos por João Henrique Vieira da Silva, Antonio Liberal, Germano Mariutti, inclusive do famoso Júlio Senna, o paulista que se tornou carioca e um dos primeiros decoradores a provar que uma decoração com tema e linguagem brasileira pode ser chique, sofisticada e exportável. Tem assinatura dele uma cadeira de ferro com desenho de cisnes no encosto e uma cômoda-aparador de design moderno, mas com aplicação nas portas que fazem alusão ao móvel colonial brasileiro. E há quem já ande à cata de restos dos tecidos com estampas de folhagens, abacaxis e outras brasilidades desenhados por Senna para a Fábrica Bangu, no Rio de Janeiro.

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Um entre os contemporâneos que parecem estar plantando no mercado as sementes de futuros objetos de desejo vintage é o arquiteto e decorador Marcelo Rosenbaum. Seus móveis, louças, papéis de parede e laminados plásticos desenhados com exclusividade para lojas, manufaturas ou indústrias nacionais e estrangeiras visam também o grande público e têm, portanto, um sentido mais popular e democrático. É esperar para ver. (www.mariaignezbarbosa.com ).

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