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Pedras viram matéria-prima nas mãos dos designers

Móveis de pedra são destaque em mostras internacionais e conquistam altas cotações no mercado

Por Marcelo Lima
Atualização:
A mostra Fragmentos com móveis projetados pelo designer holandês Lex Pott Foto: Divulgação

Uma aura de abstração e mistério envolve o móvel feito de pedra. Sua intensa materialidade se conecta a uma beleza particular, que nasce de sua natureza única, uma vez que, a rigor, inexiste a possibilidade de reprodução. Ainda assim, o que mais se sobressai nessas obras é o esforço do designer – ou artista – que decidiu talhá-las, não raro com as próprias mãos.  “É esse foco, essa paixão, que torna os trabalhos executados em pedra tão dignos de admiração”, afirma o galerista Johnson Trading, da galeria de mesmo nome, que há quase uma década representa o designer britânico Max Lamb, em Nova York. Um quase veterano no assunto móveis de pedra, mas que no ano passado confrontou o mármore pela primeira vez, na coleção Man, Rock, Drill (homem, pedra e broca, em português), até recentemente em cartaz na Trading. “Eu já havia trabalhado com pedras mais comuns, como o calcário e o granito, mas me sentia um pouco distante do mármore. Ainda assim, se eu pudesse trabalhar o material de uma forma honesta, longe de qualquer refinamento, achei que valeria a pena”, afirma o designer, que durante duas semanas esculpiu, por conta própria, em uma fazenda nos arredores de Vermont, um total de 26 móveis lixados, mas sem polimento.  Peças construídas com base em formas simples, alternando superfícies mais ou menos lisas, que apenas levemente insinuam suas funções. “É claro que as peças são interessantes por si só, mas o esforço e a capacidade de Max de fazer o trabalho sem reclamar, trabalhando duro, peça a peça, me faz admirá-las ainda mais”, afirma Trading. Em alta aos olhos dos colecionadores, móveis executados em pedras ou similares também marcaram presença durante a última edição do Design Miami, feira que a aconteceu no mês passado, apresentando objetos produzidos na fronteira da arte. Caso da coleção Fragmentos, composto por móveis projetados especialmente para a mostra pelo designer holandês Lex Pott. No total, um conjunto de quatro peças – três mesas com tampos de vidro encravados em blocos de bluestone belga, além de uma estante, de desenho rigoroso e ortogonal, com prateleiras executadas em diferentes tipos de mármores. Uma coleção que tinha como pano de fundo paredes pintadas com tinta especial, criada pelo designer Calico Wallpaper, que incorpora minerais pulverizados à sua formulação  “Procurei me inspirar na forma como as rochas são cortadas nas pedreiras, seguindo a direção de seus veios e fissuras naturais”, explica Pott, que optou por preservar a aparência brutalmente crua das pedras. “Me agrada ver o formato natural delas em flagrante confronto com a superfície regular e polida do tampo.” Um dos destaques da galeria Friedman Benda, de Nova York, também presente no Design Miami, o trabalho do artista coreano Choi Byung Hoon, um dos nomes atualmente de maior expressão no mundo do móvel arte, navega nas mesmas águas. Suas peças, quase esculturas, construídas de acordo com ancestrais princípios budistas, também exploram o impacto gerado pelo contraste de superfícies. Só que, na contramão da radicalidade de Pott, com inegável simplicidade e brandura. Ancorado no simbolismo asteca, o designer mexicano Eduardo Olbés, da galeria ADN, levou a Miami uma série de três esculturas, na qual o jade é utilizado como superfície refletora, sugerindo um espelho de mesa. “Na mitologia asteca, os espelhos eram vistos como uma espécie de janela para se olhar através. E o jade, como um material capaz de atuar como uma janela para a alma. Da união dessas duas crenças nasceu esta coleção”, conta. Por fim, a amálgama de pedra e betume, base da composição do asfalto, inspirou o também holandês Quintus Kropholler a conceber Black Gold: instalação na qual ele propõe um uso não convencional para o material: criar móveis de design derivado de elementos arquitetônicos, como vigas e colunas. “Trata-se de um material praticamente esquecido na nossa vida cotidiana, mas que oferece enormes possibilidades estéticas, do brilho cintilante escuro da sua superfície às muitas cores e texturas que podem ser encontradas em seu interior. Merece, portanto, um olhar mais atento”, conclui.

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