Uma casa avessa a desperdícios

Obra radical derruba paredes e enche de luz natural sobrado de vila em São Paulo onde a água é bem precioso

PUBLICIDADE

Por
Atualização:
O aço em sua cor natural e tons terrosos predominam no sobrado reformado pelo escritório Arkitito. O piso imitando cimento queimado é um porcelanato da Portobello Foto: Vivi Spaco/Dviulgação

Esta antiga casa de vila no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, passou por uma reforma que mudou totalmente a conformação de seus cômodos e ainda imprimiu aos interiores do imóvel um ar industrial – ainda que de forma involuntária.

PUBLICIDADE

“Não tínhamos a intenção de optar por um estilo, não foi uma escolha estética, mas um resultado natural de nossas opções para a estrutura e o acabamento do imóvel”, diz o arquiteto Tito Ficarelli, responsável pela obra com a irmã, Chantal, sua sócia no escritório Arkitito. Em um terreno de 5 metros de largura, no fim da vila, o imóvel perdeu paredes e ganhou em iluminação natural com o uso de vidro para fechar toda a área da escada. 

As vigas de aço recheadas com concreto que agora fazem a sustentação do sobrado foram mantidas em seu tom natural, assim como a escada que leva do térreo ao solário – vazada e apenas com uma tela como guarda-corpo a partir do segundo piso, ela contribui para deixar a construção mais leve.

No piso do térreo, um porcelanato passa perfeitamente por cimento queimado, como garantem os arquitetos. “A qualidade desse tipo de revestimento evoluiu muito e a facilidade na instalação é incomparável em relação ao cimento queimado”, diz Chantal. Em uma das paredes logo na entrada da casa estão aparentes tijolos reaproveitados da obra. “Usamos todo o tijolo do imóvel, em paredes e até no piso do quintal”, conta a arquiteta. 

O cuidado do escritório em produzir menos entulho dialoga com a intenção do morador de ter uma casa o mais sustentável possível. Ele mesmo produziu a tinta das paredes, usando terra de diferentes cores para criar tonalidades diversas. O resultado visual agradou e a resistência do material surpreendeu: mesmo na área externa, com exposição à chuva e ao sol, a tinta não desbotou. 

O pequeno quintal, com jardim nas bordas e uma ducha, esconde sob o piso uma cisterna que faz parte de um sistema de reúso de água (mais informações no box). Mais uma preocupação do proprietário, que levou a sério a ideia de não desperdiçar nada: os móveis da outra casa foram para a nova, com exceção dos armários da cozinha, desenhados pelos arquitetos. “Foi bom o morador usar poucas peças no térreo, deixando o salão livre e, de fato, valorizando um espaço sem paredes”, afirma Tito. “Com o vidro fechando a parte dos fundos e o vão da escada, quando se entra na casa, a impressão é de se estar em um loft com mezanino e não em um sobrado.”

No quintal tem ducha e jardim, usado na filtragem da água acumulada na cisterna sob o piso de tijolos Foto: Vivi Spaco/Dviulgação

Colocando água de volta no ciclo

Publicidade

O arquiteto João Pedro David e o sócio, o alemão Ulrich Zens, do escritório Incriatório, têm sido muito procurados nos últimos meses. Por causa da crise hídrica, os paulistanos estão preocupados em economizar água e eles podem ajudar nessa tarefa. Os dois desenvolvem projetos para manejo de água e instalam sistemas de captação e reúso como o que fica sob o piso de tijolos do pequeno quintal desta casa. A cisterna, com capacidade para 5 mil litros, acumula água de chuva e proveniente de chuveiros e pias, que, depois de filtrada, vai para vasos sanitários e torneiras usadas na limpeza. “É claro que a questão financeira, do investimento no sistema deve ser levada em consideração, mas hoje a questão é de segurança hídrica. As pessoas estão abrindo os olhos para isso e percebendo que a casa pode colocar água no ciclo de consumo, jogando menos pelo esgoto do que recebe”, diz João Pedro.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.