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Câncer de próstata: medicina está mais perto da terapia individualizada

Pesquisadores descobrem novo teste que personaliza tratamento do tumor, o que pode aumentar chances de sobrevida e cura

Por Anna Paula Buchalla
Atualização:

Diferenciar um tumor de próstata agressivo de outro, cuja versão é mais branda e tem menos chances de recorrência, é uma das questões chave para se chegar ao tratamento mais adequado a cada paciente. Ainda não existe uma resposta exata e objetiva para determinar, sem sombra de dúvida, quem é candidato a cirurgia ou radioterapia, ou quem deve se submeter a tratamentos adicionais como terapia hormonal, molecular ou quimioterapia. Mas essa resposta pode fazer a diferença nos anos de vida a mais de um doente.

A partir dos 50 anos, todo homem deve manter como rotina a consulta anual ao urologista para diagnosticar precocemente a doença Foto: Oleander/Creative Commons

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Um grande passo nesse sentido foi dado por pesquisadores do Instituto de Pesquisas do Câncer, de Ontario, no Canadá, que descobriram uma nova assinatura genética, baseada no DNA dos tumores. O teste é uma simples biópsia, que analisa genes ativados e o oxigênio contido nos tecidos. A partir dessas características, o médico pode definir com 80% de precisão qual a terapia mais indicada em cada caso para evitar a recorrência. O estudo, bancado pela Fundação Movember, que apoia pesquisas sobre o câncer no mundo todo, foi publicado no The Lancet Oncology. “Encontrar tratamentos mais personalizados não apenas aumenta a sobrevida dos pacientes como também reduz tratamentos desnecessários, muitas vezes agressivos e com efeitos colaterais sérios”, diz o diretor da Fundação Movember, Paul Villant. O teste pode estar em uso em todo o mundo nos próximos dois anos.

Trata-se de uma excelente notícia neste Novembro Azul que, depois do Outubro Rosa, chama a atenção para a importância da prevenção ao câncer de próstata. Ele é o segundo tumor mais comum entre os homens (só perde para o melanoma), de acordo com o Instituto Nacional do Câncer, o Inca. Estima-se, apenas para este ano, 68.800 novos casos da doença no Brasil. Em valores absolutos, o câncer de próstata é o sexto tipo mais comum no mundo e o mais prevalente em homens, representando cerca de 10% do total de cânceres. Embora o estudo canadense seja uma excelente aposta, a boa notícia para os pacientes é que a medicina já deu grandes saltos no tratamento dos tumores de próstata. “Hoje há técnicas bem mais precisas de estadiamento do câncer, que predizem quais as melhores formas de tratar o mal, dependendo se ele é localizado ou se já avançou”, explica o urologista Rafael Ferreira Coelho, chefe da equipe de urologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e cirurgião do Hospital 9 de Julho. O especialista salienta que, em muitos casos, pequenos tumores localizados só requerem acompanhamento, nenhuma intervenção. Nos outros casos, opta-se, em geral, por cirurgia, radioterapia, tratamento hormonal ou outros métodos definidos pelo médico. A partir dos 50 anos, todo homem deve manter como rotina a consulta anual ao urologista para diagnosticar precocemente a doença, fase em que a chance de cura supera 90%. Homens com histórico familiar de câncer devem começar os exames mais cedo, aos 45 anos. “Avançamos bastante no campo da prevenção, mas ainda há muito a ser feito para conscientizar os homens e a fazer o rastreamento, que inclui o exame de PSA e o toque retal”, afirma o urologista. As taxas de incidência da doença no Brasil vêm aumentando nas últimas décadas, e isso se deve não apenas ao aumento da expectativa de vida da população, mas também à evolução dos métodos diagnósticos. “A detecção precoce é crucial para elevar as chances de cura”, afirma Rafael Coelho. Infelizmente, muitos homens ainda têm resistência em procurar um urologista para fazer os exames necessários, como o de toque retal. Como a doença é de início silencioso, muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma e só vão procurar ajudar quando o tumor está em fase avançada, com a função urinária comprometida e até com dores ósseas. Nessa fase, as chances de cura são bem menores.

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