Carta Aberta a Paulo Borges

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Por JORGE GRIMBERG
Atualização:
Fachada da 38ª edição da São Paulo Fashion Week Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Querido Paulo Borges, 

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Essa temporada de SPFW foi excepcional. 

Ficou um sentimento de superação e renovação da nossa moda após a finalização dos desfiles de Outono Inverno 2015. Talvez, a concorrência internacional nos Shoppings do Brasil tenham despertado os nossos estilistas para uma nova era, com mais qualidade e autenticidade e menos cópias. Novas tribos agora circulam entre nós. Nos desfiles de marcas como PatBo, Giuliana Romanno, Têca, Lilly Sarti e Lolita, vemos novas tribos frequentando o SPFW e movimentando a cidade com inovação. Algo que há muito precisávamos. 

Existe um prazer inestimável na renovação. A moda precisa disso para existir. É um prazer acompanhar a evolução, por exemplo, de Vitorino Campos e ver seu amadurecimento, agora também na Animale. Um empreendedor/estilista de 25 anos à frente de duas marcas importantes. Eu vejo o que os nossos estilistas conseguem criar, sem acesso aos recursos e materiais encontrados em Paris ou Milão, com pouca abertura para o mercado global e com um consumidor que prefere comprar em Miami. Eu vejo o esforço dentro e fora das passarelas em criar uma cultura de moda e fico admirado.

Mas nessa temporada, gostaria de sugerir uma homenagem a você, Paulo. Toda a minha carreira aconteceu em volta da 'nossa' semana de moda. Eu digo 'nossa' porque, ao contrário do que muitos pensam, você criou uma plataforma democrática onde profissionais se formaram ao longo de duas décadas. Um espaço onde foram desenvolvidas centenas, se não milhares de carreiras e obras. Uma plataforma que traz muitas alegrias, mas que também muitas vezes é difícil e ingrata. Uma plataforma que, sem ela, a moda brasileira não seria a moda brasileira.

É muito difícil lutar pela moda nacional. Digo isso por experiência própria e por acompanhar também tantos estilistas que nos deixaram, cedendo espaço aos novos. Quando parece que vamos despontar, muitas vezes vem um banho de água fria e retrocedemos, nos reinventamos, ajustamos e adaptamos. 

Quem não trabalha na semana de moda, e só acompanha em sites e revistas, não faz ideias da sua dedicação. Eu já vi você sem voz, resfriado, com braço imobilizado, mas nunca te vi ausente. Em cada desfile, você está lá, em pé, no canto da sala, tomando conta da sua moda, do seu evento, do seu show democrático, que tornou-se nosso show. Tudo é perfeitamente orquestrado. Quando apagam as luzes da sala de desfile, cada show é impecável e você toma conta de tudo pessoalmente. 

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Um exemplo para o leitor entender o grau de detalhes com que você opera, vou citar algo que eu acompanhei nessa temporada. Durante um dos desfiles, duas garotas que estavam em ‘standing’ (pessoas que ficam em pé no fundo da sala) conseguiram durante o desfile dar uma escapada e foram sentar um pouco à frente. Você e sua equipe se comunicam com os olhos. Pensam, trocam, se posicionam e se preparam. Aquele é o momento do estilista contar a sua história. Todo o cenário é perfeito, a trilha, os fotógrafos, o quem-é-quem na primeira fila, a troca de olhares, as novas roupas nas passarelas, as modelos, a beleza. Nada pode dar errado. Até o desfile terminar, eu observei você e seus olhos atentos para que ninguém notasse que houve um movimento imprevisto. No show do SPFW, tudo é impecável e nenhuma movimentação indesejada acontece. 

Quero te agradecer por ser uma inspiração. Em um país como o nosso, onde ser empreendedor é um local solitário, eu te admiro. Você carrega a moda brasileira nas costas, cria oportunidades, vence o tempo e supera crises. 

Parabéns pelos 20 anos de SPFW! Que venham mais 1.000 e que seus sucessores mantenham e elevem o padrão de qualidade que você estabeleceu. 

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