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Museus de arte: a última fronteira do luxo

Marcas de moda investem em fundações não apenas para contar sua história ou apresentar seus desfiles

Por Carlos Ferreirinha
Atualização:
A Fundação Louis Vuitton, ao contrário da expectativa natural do mercado, focará em arte e exposições ao invés de contar sua própria história Foto: Reuters

A abertura da esperada e aclamada Fundação Louis Vuitton na região Bois de Bologne, um parque na parte oeste de Paris, traz uma nova relação entre arte e marcas de luxo e, principalmente, entre museus e a atividade do luxo.

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Muitas marcas poderosas de luxo exploraram fortemente na última década a exibição de suas coleções com desfiles-shows em museus de grande renome como o Louvre, Metropolitan e Guggenheim. A fórmula, portanto, já foi experimentada por muitos.

É sabida a exacerbada vaidade das marcas de luxo, que contam suas histórias frequentemente e celebram essas histórias a todo o momento. A Fundação Louis Vuitton, ao contrário dessa expectativa natural do mercado, focará em arte e exposições ao invés de contar sua própria história. Surpreendente movimento para uma das marcas mais poderosas, bem-sucedidas e aclamadas da era da gestão, do negócio e do crescimento do luxo.

E, sem dúvida alguma, um sopro de novidade na marca que nos últimos anos exercitou diversos formatos para impressionar o público final, inclusive colaborando com artistas como os japoneses Takashi Murakami e Yayoi Kusama. Ao que parece, a fundação não será palco para os desfiles emblemáticos da marca. O tempo dirá...

Esse movimento também está sendo planejado pela Prada, que anunciou a abertura de sua fundação ou algo similar, em 2015, em Milão, e a Gucci prepara também o seu museu para ser aberto em Florença em um edifício do século 15. Alguns desses projetos possuem assinatura de Arquitetos celebridades: Koolhaas para Prada e o futurista Frank Gehry na Fundação Louis Vuitton.

O movimento em si não é novo. Ferragamo possui seu museu também em Florença, e a Fundação Cartier há 30 anos encanta o mundo com acervo e exposições dedicadas à arte contemporânea.

As icônicas marcas montadoras Alemãs de carros, BMW e Mercedes Benz, também abriram recentemente seus museus exibindo as histórias de suas marcas e modelos de carros com algumas obras de arte.

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Até mesmo Francois Pinault, o todo poderoso chefão do Grupo Kering, antigo Grupo Gucci, possui um espaço particular em Veneza, Palazzo Grassi, para expor sua impressionante coleção privada de arte contemporânea - ele que já é listado entre os principais colecionadores do mundo.

Não há duvida de que existe algo novo acontecendo no mundo tradicional e especial das marcas e grupos de luxo. E definitivamente trata-se de um ótimo sinal!!

Será que os roteiros de viagens contarão agora com alguns desses museus acima descritos como obrigatórios? Como serão percebidos pelos amantes, apreciadores e conhecedores de arte e como serão recebidos entre os clientes tradicionais dessas marcas, principalmente os clientes emergentes da América Latina, da Ásia e do Leste Europeu?

Os brasileiros que, por sua vez, se tornaram nos últimos anos um dos principais viajantes e consumidores globais, quebrando recordes atrás de recordes de consumo internacional, não têm demonstrado o mesmo interesse para turismo cultural internacional. De forma geral, os brasileiros internacionalmente ainda estão com a forte atitude da aventura do consumo de varejo e serviços. A relação do brasileiro com os principais museus internacionais não cresceu na mesma proporção do crescimento das viagens de consumo varejista.

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Entretanto, nós, brasileiros, temos mantido filas e quebrado recordes de visitação em algumas exposições no Brasil. Recentemente, mostras tiveram horas de fila e ingressos esgotados em São Paulo e Rio de Janeiro.

Será que o brasileiro, o novo relevante consumidor internacional de marcas de luxo, se sentirá mais atraído e estimulado a visitar alguns dos referidos museus dessas grifes na Europa? De imediato, considero a conexão forte e com grande potencial de diálogo emocional.

A relação do marketing com a arte e da arte com o marketing já vem sendo estudada há algum tempo e tem sido chamada de "Arketing". Movimento que enxergo e percebo de maneira muito positiva, onde principalmente todos nós somos favorecidos pelo encantamento dessa relação do belo, da arte que inspira, que inquieta, que provoca e que nos leva a novas observações.

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Essa deveria ser sempre a proposta e o objetivo principal e genuíno do marketing para as marcas! Inspirar, provocar, estimular!

Pablo Picasso dizia sobre o impacto da arte no indivíduo da seguinte forma: “A arte limpa a alma e limpa da poeira do cotidiano. Uma alma limpa restaura entusiasmo, e entusiasmo é o que nós - e futuras gerações - mais precisamos”.

Vida longa às fundações e aos museus das marcas de luxo! E que esse movimento, por que não?, possa também chegar ao Brasil.

* O artigo acima foi inspirado pela provocação realizada pelo renomado jornalista fotógrafo Hermano Silva, fundador do Blog www.thegentleman.com.br, brasileiro residente em Berlim, em algumas trocas de e-mails comigo sobre o tema.

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