NYFW: tecnologia, teatro, esporte e moda

Em Nova York, a primavera/verão 2015 irá muito além dos desfiles

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Por Jorge Grimberg
Atualização:
Anna Wintour, no sábado,6, foi uma das primeiras a chegar para assistir as partidas da semi-final masculina no US Open Foto: Geren Lockhart

Tons pastel, militares, anos sessenta, rendas, amarelos e azuis foram as principais tendências nas passarelas da NYFW, mas parte significativa do agito da semana de moda de Nova York aconteceu fora do Lincoln Center, onde os desfiles acontecem.

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Essa temporada, formatos inovadores e eventos paralelos acabaram chamando mais atenção que a moda em si durante os lançamentos de mais de 100 coleções para a primavera verão 2015, apresentadas em Manhattan de 4 a 11 de Setembro.

No sábado, 6 de setembro, a toda-poderosa editora da Vogue América, Anna Wintour, pulou os desfiles e passou a tarde toda no USTA Billie Jean King National Tennis Center, no Queens, para acompanhar as duas partidas da semi-final masculina do campeonato US Open de tênis. O seu jogador queridinho Roger Federer, figura constantes nas páginas de Vogue, perdeu de três sets a zero e Anna torceu e sofreu com cada lance. No mesmo dia, Alexander Wang, um dos nomes mais fortes da moda local, apresentava sua coleção inspirada em modelos clássicos de tênis da Nike, uma das coleções mais marcantes de toda a semana. Anna perdeu o desfile e Roger perdeu o jogo. 

No dia seguinte, a marca Opening Ceremony apresentou - ao invés de desfile - o primeiro ato da peça 100% Lost Cotton, escrita e dirigida por Spike Jonze e pelo ator Jonah Hill. Substituindo o desfile no seu formato tradicional, a peça, que aconteceu no Metropolitan Opera House, foi patrocinada por marcas como Coca-Cola e Intel. O evento reuniu atores conhecidos, como Elle Fanning e top models, como Karlie Kloss. O mais interessante da Opening Ceremony é o movimento por trás da marca. Eles representam hoje a liberdade de expressão - que Marc Jacobs dominava na cidade há 10 anos - e provam isso com seu formato inovador de apresentação e varejo. A quantidade de seguidores e fãs da marca que os criadores Carol Lim e Humberto Leon arrastam com eles é impressionante e vai muito além da moda. Aliás, pouco se falou sobre as roupas. Mas o afterparty...

Na segunda-feira, 8, a Calvin Klein reuniu fashionistas ao redor do lançamento do seu novo perfume Reveal, no 68o andar do novo edifício do World Trade Center. Com show de Iggy Azalea e Rita Ora, a festa - que não aconteceu ao redor da coleção - reuniu celebridades, modelos, bloggers do mundo inteiro e personalidades locais em volta da nova fragrância. O desfile da marca aconteceu dias depois. 

Na terça-feira, 9, a imprensa internacional se voltou para o outro lado do país para acompanhar o lançamento do Apple Watch, que roubou os holofotes das passarelas. O primeiro produto inédito da Apple, desde o lançamento do iPad em 2010. Grandes jornalistas de moda na ocasião deixaram a fashion week para voar ao outro lado dos EUA e estar entre os primeiros a conhecer os novos acessórios fashion da Apple.

Na quarta, o estilista norte americano Reed Krakoff seguiu desafiando o formato tradicional dos desfiles com uma ação dentro de uma galeria de arte. Em três diferentes salas, as modelos caminhavam e se posicionavam em linha reta marcada com fita no chão. Os acessórios estavam pendurados nas paredes e as modelos posavam para os pouquíssimos convidados da galeria, selecionados de acordo com o perfil da marca: luxo. Quase não haviam blogueiros e agito. Estavam Suzy Menkes e Grace Coddington, algumas das figuras mais respeitadas do universo da moda. As pessoas entravam e tocavam nas peças, tiravam suas próprias fotos e iam embora. Esse formato foi extremamente prático para os profissionais que precisavam ver a coleção em detalhes e ter uma experiência intima com a marca.

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Apresentação Reed Krakoff primavera verão 2015 na Hosfelt Gallery Foto: Jorge Grimberg

A experiência com Krakoff me lembrou o lançamento da coleçãoda Osklen inspirada em Inhotim, que foi apresentada durante a última edição do SPFW. O estilista Oskar Metsavaht reuniu grupos de no máximo 20 pessoas e explicava pessoalmente sua coleção. A escolha de tecidos, o desenvolvimento das estampas inspiradas na mata Atlântica. O universo de Oskar é fascinante. As roupas estavam cercando os convidados, que podiam tocar e fotografar tudo.

O evento em São Paulo foi muito diferente da experiência do desfile que Oskar apresentou dia 10 de Setembro no Studio 59. Mesmo com críticas positivas da imprensa local, talvez a experiência de São Paulo tivesse sido mais interessante em Nova York. Inserir um nome estrangeiro em uma fashion week tradicional requer uma estratégia forte de networking, para não acabar camuflado no meio de tantos nomes anfitriões em uma semana de moda que tem mais que o triplo de desfiles que o SPFW.

Osklen Primavera Verão 2015: Desfile no Pier 59 da coleção inspirada em Inhotim

Imagem: Marcio Madeira

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Para terminar, como sempre, Marc Jacobs dá o statement da temporada de Nova York no último dia. Dessa vez, Jacobs deu fones de ouvidos para que cada convidado viajasse no seu universo com uma narração que acompanhava o desfile. A coleção foi toda focada em uniformes com forte pegada militar. O oposto do que se via fora das salas de desfile.

Marc Jacobs: coleção baseada em uniformes

Ficou claro nessa semana de moda que os formatos estão sendo questionados e alterados. Na era em que o fast fashion é mais rápido que os estilistas e o consumidor está mais interessado em tecnologia, esporte e saúde, talvez sair de uniforme seja uma ideia excelente.

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Valeu Marc Jacobs! 

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