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Quem faz o que você veste?

Começa neste sábado, 16, a 3ª edição da Fashion Revolution Week, movimento que estimula as pessoas a se informarem sobre a origem das peças que compram e usam

Por Marina Espíndola e Marcela Palhão
Atualização:
A terceira edição do Fashion Revolution acontece dos dia 16 ao 24 de abril Foto: Divulgação

Tem início neste sábado, 16, a 3ª edição da Fashion Revolution Week, uma campanha de conscientização cujo objetivo é fazer com que as pessoas pensem mais naquilo que estão vestindo e estimulá-las a questionar as cadeias tradicionais de produção de roupas. A ação parte de uma pergunta simples: "Afinal de contas, quem fez as minhas roupas?". A proposta é combater o hábito de vestir pelo simples valor agregado à marca e incentivar as pessoas a pensar nos processos de produção, desde o material usado na confecção, até a mão de obra utilizada na confecção de cada peça.

Até o dia 24, a campanha incentiva todos a postarem nas redes sociais fotos com a etiqueta das roupas aparecendo, utilizando a hashtag#whomadeyourclothes. No ano passado, ação teve mais de 63 milhões de posts. “A ideia é incentivar as pessoas a imaginarem o 'fio condutor' do vestuário, passando pelo costureiro até chegar no agricultor que cultivou o algodão que dá origem aos tecidos", diz a designer inglesa Orsola de Castro, que criou o movimento em 2013 ao lado da também designer Carry Sommers.

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Para Fernanda Simon, coordenadora da Fashion Revolution no Brasil, o modelo de consumo atual está ameaçado porque os consumidores vêm adquirindo uma visão consciente. "O consumo de produtos mais artesanais, mais locais, será cada vez mais valorizado e ganhará espaço no mercado", diz ela. Veja a programação completa no site (LINK) e a íntegra da entrevista de Fernanda abaixo.

É possível operar por meio da moda consciente e mesmo assim lucrar? Sim. É isso que nós exigimos: uma cadeia mais ética e transparente. A gente acredita que diminuir a quantidade de consumo, a quantidade de produção e produzir com mais qualidade e eficiência é possível. Às vezes o consumidor pode comprar um pouco menos, mas comprar melhor. E os fabricantes também: eles podem aumentar o preço, diminuir um pouco o lucro. Vou citar o caso da Zara: o Amancio Ortega é o segundo homem mais rico do mundo, a gente está falando de quantos bilhões? É dinheiro que não dá pra imaginar. E a Zara já foi pega muitas vezes utilizando mão de obra escrava. Então tudo bem, porque terceirizou? 

O modelo de fast fashion está ameaçado? Acredito que sim. Lógico que ele não vai deixar de existir de uma hora para outra, até porque não é isso que nós queremos e existem milhões de trabalhadores que dependem disso, mas, a longo prazo, ele vai perder força. O consumo de produtos mais artesanais, mais locais, vai ser cada vez mais valorizado e ter mais espaço no mercado. É que nem o fast food: de um tempo para cá a gente vê várias notícias de que lojas do MC Donalds estão fechando. As pessoas agora preferem comer uma comida mais saudável. Na moda vai ser mais ou menos isso também. 

O que você vê de mudança no seu comportamento de consumo desde que passou a se interessar pelo assunto? Sou daquelas veganas eco-chatas, que briga com as pessoas, que muita gente às vezes não aguenta. Eu sou super livre de químicos, faço meus produtos. A maioria das minhas roupas são de brechó, usadas, que eu peguei da minha mãe, da minha tia... O vestido com que estou agora custou R$ 15. Ainda acontece de comprar coisas mais caras, como uma jaqueta pela qual paguei R$ 280. Ela era de algodão reciclado, de uma marca nacional, superresponsável, mas foi a única peça no ano que eu comprei nesse valor. 

O que mudou da primeira edição do Fashion Revolution até agora?  A gente cresceu muito. Teremos uns trinta eventos, com quase 20 cidades participando. Porto Alegre sediará 5 ações, Salvador, 4. E ainda tem as faculdades envolvidas, então foi um aumento incalculável.

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O evento é patrocinado? Não, ele não é patrocinado. Isso é bem difícil. Ele tem apoiadores, mas é tudo na base da colaboração: um cede isso, um empresta isso. A gente não tem muito dinheiro envolvido na campanha, é mais por colaboração mesmo. 

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