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Um conto de fadas na moda brasileira

De cozinhas industriais às passarelas, conheça Luiz Cláudio, estilista da Apartamento 03, e nova aposta da moda nacional

Por Jorge Grimberg
Atualização:
Conheça a trajetória de um verdadeiro craque da moda nacional Foto: Divulgação

Unanimidade nos sites de moda, a Apartamento 03 foi a marca estreante mais celebrada na última edição do São Paulo Fashion Week. Parte do grupo Nohda, da estilista e empresária Patricia Bonaldi, a grife mineira de Luiz Claudio, 40, é novidade para os paulistanos, apesar de ter muita estrada em Minas Gerais - e não é a toa que chegou com tanta força à capital paulista. 

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Conheça a trajetória de um verdadeiro craque da moda nacional. Na minha coluna semanal, um bate-papo altamente inspirador com o mais novo ‘cinderelo’ da moda brasileira.

Luiz, como você começou na moda? Minha mãe era costureira e eu achava que aquilo poderia ser uma profissão boa. Ela construiu nossa casa, pagou escola e fez tudo isso com o trabalho. Quando apertava, ela pedia ajuda e eu e meu irmão ajudávamos fazendo costura, acabamento, botões.

Ela acabou ensinando isso pra gente. Eu aprendi muito melhor que o meu irmão. Bainha, costura, barra, inserção de botão. Aí, eu pedi pra ela me ajudar a costurar mesmo. Encarava isso não como moda, mas como construção das roupas. Eu tirava as medidas do cliente, transformava o tecido e moldava a roupa. Eu achava esse processo muito interessante. E sempre desenhei muito bem. 

Então você praticamente nasceu na moda. Como foi o processo de formação e iniciação no mercado? Quando tinha 16 anos, fui trabalhar como auxiliar de limpeza de uma empresa que fazia cozinhas industriais. Lá dentro, havia um setor de projetos. Eles faziam projetos de acordo com o tamanho das cozinhas que seriam construídas. Minha chefe resolveu me ensinar e eu comecei a ser projetista. Logo, comecei a olhar para moda como um designer. Sai do lugar comum, que era costurar, e passei a pensar em projetos, design e criação. Porque no ateliê da minha mãe, o cliente chegava com revistas e copiávamos os modelos, não tinha criação. Já, fazendo projetos de cozinha, meu olho foi ficando mais apurado e comecei a pensar em fazer um curso de design, mas só havia um cursoem Belo Horizonte, na UFMG, que foi o primeiro curso de moda do Brasil. Era um curso técnico que durava dois anos. Eu prestei e não passei. Eu sai dessa empresa e fui chamado para fazer cozinha residencial. Era o mesmo ambiente, mas eu lidava mais com designers. A cozinha residencial tem muito mais a ver com design e beleza. Na época, fui procurar concursos de estilistas. Desenhava muito bem e comecei a ganhar esses concursos. Aí eu prestei para o curso novamente e entrei, me formei em 2000. 

Projetar cozinhas e criar moda são processos muito diferentes... Os projetos de cozinha eram feitos a mão e o tempo era muito maior do que os feitos no computador. Começamos a perder espaço para empresas mais novas. No meio do curso, eu vi um anuncio do prêmio Smirnoff. E eu ganhei o Smirnoff nacional na época. Era um concurso que acontecia de 2 em 2 anos. Eu fui para a final nacional e depois para a internacional que foi em Hong Kong. Aí, eu tive muita mídia e uma marca de confecção me chamou para trabalhar e eu comecei a trabalhar como estilista. Na verdade, era uma coisa da necessidade. Eu precisava trabalhar e não tinha como entrar em um mundo que eu não fazia parte dele. 

Como foi o caminho daí até você chegar na Apartamento 03? Trabalhei em mais de 10 marcas em BH. Houve um momento em que eu tinha 4 empregos ao mesmo tempo! Sempre trabalhei muito no chão da fabrica, eu sempre gostei dos processos de fazer roupas. Minha paixão é sobre a construção das roupas. Queria ter uma marca. Comecei a fazer as coisas em casa. Fiz umas peças para uma marca de tecidos, Santanense. Eles queria flertar com o jeanswear e me chamaram para construir um book de roupas com 160 peças. Eu costurei todas as peças, entreguei tudo pronto e conheci nesse dia, uma menina que chama Mariana Sucupira, e ela fazia a direção de arte dessas fotos e ela pediu uma das saias que eu tinha feito pra Santanense. Logo, as pessoas começaram a ligar lá pra casa e pedir. O telefone não parava de tocar! E eu produzindo. Eu trabalhava para 2 ou 3 fábricas e eu cheguei ao ponto de perceber que estava na hora de fazer uma marca.

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Look do desfile Apartamento 03: texturas marcam o trabalho de Luiz Cláudio Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Por quê esse nome Apartamento 03? Eu nunca achei que a marca precisava ter o meu nome. Eu morava no apartamento 03 no meu edifício. Aí eu chegava em casa e já tinha gente esperando. Mulherada chegando em casa 10 da noite e ligando perguntando: “Você já está no Apartamento 03?”. As mulheres vinham fazer encomendas de roupas no Apartamento 03. Aí, quando eu ouvi os clientes chamando a casa assim, eu decidi dar esse nome para a marca. 

Como começou a história com a Patricia Bonaldi? Eu fiz showroom muitas vezes com a Patricia Bonaldi, fazíamos stand juntos. Ela comprava minha coleção. Além de estilista, ela sempre foi muito empreendedora e administradora. Sempre quisemos fazer coisas juntos. Até hoje, ela tem esse tamanho todo e ela decidiu ter um guarda chuvas para ajudar outros talentos e isso nos ajudou. Seria muito difícil trabalhar com alguma pessoa que não te entende. A Patricia me entende. Quando ela me convidou, eu achei que era hora de ir de Belo Horizonte para o mundo. Ano passado, a Patricia me chamou e me fez a proposta. Ela cuida do administrativo e vendas e eu do criativo. Tudo continua da mesma forma, o que muda é que você passa a fazer parte de um grupo, o que torna tanto a Apartamento 03, quanto a PatBo, Lucas Magalhães e Patricia Bonaldi mais fortes. É bom para todos os lados. Traz mais credibilidade para o mercado. E o mercado como está hoje, com a mão de obra tão escassa, essa união só tem a acrescentar. 

Luiz, e a estreia no SPFW? Qual é o sentimento desse reconhecimento nacional e ser destaque em um mercado tão difícil como o de São Paulo?  Na verdade eu fazia o Minas Trend Preview, é nossa casa. É perto, mas a mídia é muito limitada. São Paulo te da uma visibilidade muito maior. A ideia é criar visibilidade e espaço para a marca. É a semana de moda mais importante do Brasil. A gente estar no SPFW, são anos e anos de chão de fábrica. Eu ainda não consigo descrever a sensação. Parece que estou meio anestesiado ainda. Não bate! Pra falar bem a verdade, eu fico muito feliz, feliz do dever comprido. Eu sempre quis levar roupas para fora e sozinho isso seria um pouco mais complicado. Com a entrada no Grupo Nohda, nós fizemos quatro showrooms internacionais esse ano. Estamos vendendo em 4 países, na China, Itália, Arabia Saudita e Coreia do Sul . Tenho recebido alguns emails de pessoas interessadas na roupa. A visibilidade se torna muito maior. 

Desfile da Apartamento 03, na última temporada da São Paulo Fashion Week Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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